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Empresas investigadas pela PF atuaram em órgãos ligados ao partido de Lira

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Foto: reprodução

A investigação da Polícia Federal que tinha o objetivo de apurar o superfaturamento de kits de robótica no Ministério da Educação (MEC) revelou uma rede de pessoas e empresas conectadas a ministérios e órgãos públicos, com indícios de fraudes ligadas ao antigo PP, atual Progressistas, partido de Arthur Lira.

A atuação da PF, que já havia destacado o nome de Luciano Cavalcante, assessor de Lira, esbarrou em outras fornecedoras estatais para obras e serviços, como limpeza, coleta de resíduos e segurança. No governo federal, essas empresas estão nos ministérios ou já foram deles, como o da Cidades, o da Infraestrutura e o da Agricultura.

Apesar do foco inicial dos policiais, os desdobramentos mostra que a situação vai além dos kits de robótica. Duas instituições federais de ensino sediadas no estado do presidente da Câmara, por exemplo, puseram dinheiro na BRA Serviços Administrativos Ltda., uma das empresas investigadas: Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

O dono da BRA é Murilo Sérgio Jucá Nogueira Junior, policial alagoano que, segundo as investigações, é ligado ao endereço onde a PF encontrou R$ 4 milhões em dinheiro vivo dentro de um cofre. Ele também é dono de um carro utilizado para a entrega de valores no esquema e para a campanha de Lira a deputado nas eleições do ano passado.

Em Brasília, as suspeitas começaram com uma dispensa de licitação para limpeza de hospitais no governo do Distrito Federal, em 2019, quando a mesma BRA Serviços Administrativos Ltda, à época uma firma forasteira na cidade, ganhou, sem licitação, um contrato de quase R$ 70 milhões na Secretaria de Saúde.

De acordo com o Metrópoles, a vitória inesperada revoltou concorrentes locais e, a partir daí, verificou-se um padrão controverso de ação. Além de não cumprir com a regra de inscrição no prazo determinado, a BRA apresentou certidões emitidas nove horas depois e o sistema do governo aceitou, o que já apontava que existia algum tipo de favorecimento.

Na época, os indícios de fraude foram parar na Justiça e 20 funcionários foram exonerados pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Porém, mesmo diante do escândalo, em processo comandado pelo então secretário de Saúde, Osnei Okumoto, a secretaria insistiu na contratação da firma.

Okumoto que já tinha trajetória ligada a gestores apadrinhados pelo PP, migrou para o DF na época que a sigla realocou seus aliados após o governo Temer chegar ao fim. Foi nessa fase que a BRA começou a lucrar no governo local.

Ministério da Educação
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Já a Reluzir Serviços Terceirizados, empresa que fez dobradinha com a BRA no pregão do Instituto Federal de Alagoas, já faturou quase R$ 3 milhões da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para fornecer de mão de obra para estações em Maceió.

Outras suspeitas dependem ainda das investigações da Polícia Federal. Quando pediu a prisão dos entregadores de dinheiro, a organização citou o que pode apontar mais um indício de ramificações do esquema na máquina federal.

É uma movimentação bancária que envolve Alexsander Moreira, ex-diretor de Apoio à Gestão Educacional do MEC. Alvo de busca e apreensão, ele é apontado como um dos homens ligados à quadrilha dentro do ministério.

Transações atípicas na conta dele foram evidenciados em relatórios de inteligência, como depósitos fracionados em dinheiro. Os policiais descobriram que ele recebeu R$ 10 mil de um empresário pernambucano, sócio de empresas já investigadas por suspeita de fraudes em vendas de livros escolares.

Na semana passada, o caso deixou a esfera da Justiça Federal em Alagoas e foi para o Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Isso porque policiais encontraram documentos que citam o nome de Arthur Lira em dois endereços de alvos das ordens de busca de apreensão na operação Hefesto, de acordo com a revista Piauí e o jornal Folha de S.Paulo.

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Jessica Alexandrino

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