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Advogados de Lula dizem que Celso de Mello sinalizou para um lado e virou para o outro no STF

Celso de Mello num de seus melhores momentos

Reportagem de Thais Bilenky na Revista Piauí.

O advogado Cristiano Zanin Martins não parou de tremer os pés em mais de três horas de sessão. Cruzava e descruzava a perna esquerda sobre a direita. Sua mulher e sócia, Valeska Teixeira Martins, olhava fixamente os cinco ministros do Supremo Tribunal Federal reunidos na segunda turma na tarde de terça-feira, 25 de junho. O mais enigmático deles era o decano Celso de Mello, escondido atrás de uma pilha de livros e papéis. Segurava nas mãos a decisão que poderia soltar o ex-presidente Lula, cliente do casal, depois de 444 dias de cárcere.

Eram mais de sete horas da noite quando Celso de Mello começou a proferir seu voto. “Estou pessoalmente pronto para julgar o mérito desse habeas corpus. O meu voto foi concluído ontem à noite, na verdade, nesta madrugada. É um longo voto”, introduziu. Mas nunca chegou a lê-lo. A presidente da segunda turma, Cármen Lúcia, já havia indicado que os ministros só analisariam uma liminar apresentada pelo ministro Gilmar Mendes pela soltura de Lula até o julgamento do mérito do habeas corpus que pede a suspeição do juiz que o condenou, Sergio Moro. Caso o ex-magistrado, hoje ministro da Justiça do governo Bolsonaro, fosse considerado suspeito, a sentença proferida seria anulada, e o petista, solto.

Fiel a seu estilo, o ministro Celso de Mello anunciou: “Estaria de pleno acordo com a continuidade do julgamento, mas vejo que há razão da impossibilidade, portanto, ainda que reconhecendo o que acaba de dizer o ministro Ricardo Lewandowski, não tenho nada a opor ao adiamento deste julgamento, embora enfatize que estou inteiramente preparado para proferir o meu voto, que está aqui, completamente datilografado, digitado e pronto.”

(…)

“Vou para Portugal e Siena, mas me arrependi”, contou Lewandowski a Cardozo, já terminada a sessão. “Esse negócio de tirar férias…”, brincou. Já caminhando em direção ao estacionamento, Tofic foi cumprimentar Valeska. Comentaram a ambiguidade do voto de Celso de Mello. “Ele deu seta para a esquerda e…”, afirmou a advogada. “Virou para a direita”, completou o colega. “Ou ficou parado, vamos ver”, esperançou-se a defensora de Lula. “O ministro Celso fez três vezes a ressalva de que sua posição não era definitiva”, pontuou Zanin. E entrou no carro.