André Singer defende PT na frente ampla contra Bolsonaro: “lulismo voltou com força”
As jornalistas Mariana Caetano e Roberta Vassallo entrevistaram o cientista político André Singer no Estado de S.Paulo. Singer falou sobre a volta do lulismo, além da necessidade da esquerda na frente ampla pelo impeachment de Bolsonaro.
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“A união em torno da frente ampla pode ser atropelada pela disputa eleitoral?
A esta altura, considerações de natureza estritamente eleitoral deveriam ficar em segundo plano diante de um processo autoritário que não devemos subestimar. Como essa frente demorou e não está ainda constituída, está se confundindo com a situação eleitoral, o que a atrapalha. É fundamental não cobrar das forças políticas o que fizeram antes, porque estiveram divididas no impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff. Embora historicamente isso tenha de ser discutido, o fato é que agora há um objetivo maior que pode unificar, de defesa da democracia.
O PT e outras forças estão maduras para uma frente democrática?
Acredito que sim. O “superpedido” de impeachment, por exemplo, juntou num mesmo palanque a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, um dos pilares do impeachment de Dilma, com respeito e harmonia dentro de forças que são em outros sentidos opostas, mas dispostas a disputar democraticamente e aceitar os resultados. Talvez, neste domingo, ainda não seja possível.
O que falta para essa frente existir de fato?
O que falta é tempo para que isso amadureça e resulte em um grande movimento popular a favor do impeachment e da democracia. O setor que apoia Bolsonaro existe e demonstrou que está disposto a se mobilizar, mas é minoritário; 75% dos brasileiros querem democracia e precisam demonstrar isso em manifestações pacíficas com o tamanho que essa vontade tem. Cabe às forças políticas e movimentos sociais permitirem essa manifestação por meio da sua própria organização”.
(…)
A anulação das condenações de Lula pode beneficiar o PT eleitoralmente, ou a projeção tem a ver mais com Lula? Como fica a estruturação do partido para as eleições?
O lulismo voltou com força. As pesquisas estão mostrando que ele está canalizando a insatisfação com o governo Bolsonaro e que a sua base entre eleitores de menor renda concentrada no Nordeste se refez. No entanto, falta muito para uma campanha que não sabemos como vai acontecer, porque está misturada com este processo que quer melar as eleições. Guardadas essas ressalvas, hoje Lula é imbatível e pode inclusive ganhar no primeiro turno. Mas lulismo e petismo são coisas distintas. A associação entre Lula e o PT existe e o partido tende a ser beneficiado, mas não na proporção exata da força que a liderança de Lula tem.
Há espaço para uma terceira via?
Espaço técnico há, porque à medida que Bolsonaro vai perdendo apoio, abre-se um espaço no meio. O problema é que o que está no meio não tem conseguido encontrar um candidato viável. Cito o professor Eduardo Giannetti, que disse que a terceira via precisa de um candidato que fale com a população. A liderança faz diferença em certos casos. Talvez o que mais se aproxime dessas condições seja o ex-ministro Ciro Gomes, que nunca teve desempenho extraordinário, mas já disputou várias eleições e tem eleitorado. No entanto, é uma personalidade que muitas vezes divide em lugar de agregar”.