Corretora de imóveis acionada por débito no IPTU, vice de Mamãe Falei em 2020 quer conselho do Ibirapuera

Atualizado em 12 de setembro de 2021 às 14:49
Parque do Ibirapuera. Foto: Wikimedia Commons

O ano de 2021 terá as eleições dos conselhos gestores de pelo menos 80 parques em São Paulo. Um deles é o Ibirapuera. Tradicionalmente as votações ocorrem presencialmente utilizando a urna eletrônica.

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MBL de olho no Ibirapuera

Esses representantes dos frequentadores do parque serão eleitos individualmente pelo voto direto e secreto, de preferência pelo processo eletrônico do programa desenvolvido pela Prodam, a empresa de tecnologia da informação e comunicação do município de São Paulo.

Ainda não se sabe se essas eleições ocorreram nessas urnas ou de forma digital.

No mês de março de 2019, a construtora Construcap foi considerada vencedora da licitação para concessão do Parque Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo. A empresa apresentou uma proposta de R$ 70,5 milhões pela concessão que vale por 35 anos.

A empreiteira foi derrotada na Justiça. O então presidente, Roberto Ribeiro Capobianco, foi preso em 2016 na Operação Lava Jato e condenado, em 2018, pelo ex-juiz Sergio Moro a 12 anos de prisão em regime fechado por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Fontes entraram em contato com o DCM abordando as suspeitas envolvendo candidatos ao conselho gestor do Ibirapuera. No entanto, a publicação do Diário Oficial mostrou mais: há entre os candidatos para fiscalizar um dos mais importantes parques de São Paulo nomes do Movimento Brasil Livre (MBL) e do youtuber Arthur do Val, o ‘MamãeFalei’.

Diário Oficial mostrando figuras do MBL de olho no Ibirapuera. Foto: Reprodução

A vice envolvida com imobiliária

Os nomes de Adelaide Castro de Oliveira, Amanda Vettorazzo Carneiro, Augusto Zacarias Corrêa Leite (Guto Zacarias), Ian Garcez Oliveira, Janiffer Cabral e Ricardo Almeida Mota Ribeiro são ligados ao MBL estão na lista de candidatos a serem escolhidos pelos frequentadores do Ibirapuera. 

Além da vice: Augusto “Guto” Zacarias Correa Leite, do gabinete do MamãeFalei, em clipe de Holiday. Foto: Reprodução

Amanda Vettorazzo, líder do MBL, foi candidata a vereadora pelo Patriota e concedeu recentemente entrevista ao DCM sobre o protesto por Fora Bolsonaro em 12 de setembro. Guto Zacarias é assessor de MamãeFalei e participou do clipe da campanha de Fernando Holiday à reeleição na Câmara Municipal.

Amanda Vettorazzo
Além da vice do MamãeFalei: Amanda Vettorazzo – Foto: Reprodução/Instagram

Além deles, Ricardo Almeida chama atenção por também ser auxiliar parlamentar do deputado estadual Arthur MamãeFalei. Fontes em contato com o DCM afirmam que Ricardo não comparece ao trabalho. Ele é um dos gestores do movimento na Academia MBL, um curso político pago que foi um fracasso de público.

Ricardo Almeida trabalhando com Renan Santos, e não no gabinete de MamãeFalei, na sede do MBL. Foto: Reprodução/YouTube

O nome que chama mais atenção, no entanto, é o de Adelaide de Oliveira.

E quem é ela?

Adelaide é, segundo seu LinkedIn, diretora de vendas online na Lopes Consultoria de Imóveis. Além do seu trabalho na imobiliária, ela, hoje no partido Patriota, foi uma das coordenadoras do movimento da direita antipetista Vem Pra Rua.

Vice
Adelaide Oliveira, ex-líder do Vem pra Rua, vice na chapa do deputado Arthur do Val – Divulgação

Foi candidata a vice-prefeita da capital paulistana na chapa com Arthur do Val, o MamãeFalei. Tiveram 522 mil votos, 9,78%.

De acordo com a Veja São Paulo, Adelaide de Oliveira foi acionada pela prefeitura de São Paulo por dívidas de IPTU e queria rediscutir o imposto como candidata.

São esses assessores e essa ex-candidata a vice-prefeita, que tem ligações com empresas, que querem representar os frequentadores do Ibirapuera no conselho gestor do parque.

A controvérsia do Morumbi do MBL

No caso Ibirapuera
Novo imóvel do MBL no Morumbi. Foto: Reprodução/Google Street View

Em janeiro de 2021, o DCM divulgou com exclusividade, e com áudios, que o MBL expulsou cerca de 150 integrantes em torno de controvérsias com gastos de campanha. Ex-integrantes chegaram a ser presos em 2020.

Um ano antes, o movimento de direita mudou de sede, de um imóvel modesto na Vila Mariana, para um prédio luxuoso no Morumbi, chamado América Business Park. O aluguel da sala comercial e do conjunto no imóvel varia de R$ 4 mil a até mais de R$ 10 mil.

O imóvel, de acordo com fontes consultadas pelo Diário e pelo site oficial do imóvel, pertence à 5R. Uma reportagem da Istoé Dinheiro de 2012 aponta que um dos donos da empresa é Paulo Rossi, da família dona da incorporadora Rossi.

(da esq. para a dir.) Paulo Rossi se aliou a Fulcher e Garbin
para fundar a 5R Shopping Centers. Foto: Reprodução/Istoé Dinheiro

E onde mais Paulo Rossi aparece com o MBL?

Paulo Rossi aparece na prestação de contas de Rubinho Nunes. Foto: Reprodução

Paulo Cesar Pedroso Rossi Cuppoloni aparece como um dos doadores da campanha do advogado Rubinho Nunes, do MBL, fornecendo R$ 10 mil. Está na prestação oficial de contas de 2020. Nesse mesmo documento, Rubinho gastou também R$ 10 mil para o mesmo Rossi de 240 mil gastos para se eleger vereador pelo Patriota em São Paulo. Ele foi eleito com 33 mil votos. 

No caso Ibirapuera
Arthur MamãeFalei e Rubinho Nunes. Foto: Reprodução/YouTube

O aparecimento de assessores e de figuras do MBL associadas com empresas nas eleições para o órgão fiscalizador do Ibirapuera chamam atenção para os laços que misturam política e negócios.

MBL, que quer ser terceira via na política nacional neste 12 de setembro contra Bolsonaro e Lula, não sabe separar muito bem o uso do dinheiro público e do privado.