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Após operação do Bope, moradores do Jacarezinho enfrentam estresse pós traumático

Durante operação no Jacarezinho, 28 pessoas morreram, entre elas, um inspetor da polícia. Casas na comunidade ficaram com marcas de sangue Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

Da Folha:

Bastou ouvir a palavra “operação” que os olhos da ambulante Cristiane, 28, já se encheram de lágrimas. Arrastando seu carrinho com café e lanches por uma das esquinas estreitas do Jacarezinho, ela parou, baixou os olhos, balançou a cabeça e sussurrou que não tinha condições de falar. Toda vez que ela passa naquela viela, vem à cabeça a cena dos corpos espalhados pelo chão. Foram cerca de quatro perto da sua casa. Ao olhar para cima, volta também a visão dos traficantes pulando as lajes enquanto um deles quebrava o braço, ensanguentado.

VEJA TAMBÉM – Boletim médico aponta que cinco dos 28 mortos tinham faces dilaceradas no Jacarezinho

Dez dias após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos na favela, incluindo um agente, os moradores lidam com “flashbacks” de momentos de terror, insônia e sustos com qualquer barulho repentino. ​“O gato pula na telha, a gente já fica desesperado”, diz João, que, como muitos que moram há anos na comunidade, nunca havia vivido uma operação parecida com essa. Todos os nomes nesta reportagem foram trocados a pedido dos entrevistados, por medo de retaliações.

Na mesma rua de Cristiane, o pai de uma menina de nove anos que presenciou uma das mortes em sua própria cama, ensopada por uma poça de sangue, também se afastou quando avistou os repórteres e disse cabisbaixo que a família “ainda está muito abalada”. Um suspeito baleado no pé entrou na casa para se esconder naquela manhã e, cerca de meia hora depois, seguindo o rastro de sangue, um policial arrombou a porta. A garota estava atrás do pai quando, afirma ele, o agente atirou. “Vão matar a gente?”, questionou ela.

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