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Boletim médico aponta que cinco dos 28 mortos tinham faces dilaceradas no Jacarezinho

Durante operação no Jacarezinho, 28 pessoas morreram, entre elas, um inspetor da polícia. Casas na comunidade ficaram com marcas de sangue Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

De Rafael Nascimento de Souza no Jornal Extra.

Todos os 20 homens — vindos da Favela do Jacarezinho, no último dia 6, após uma operação da Polícia Civil —, que deram entrada no Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, já estavam mortos. É o que afirma os boletins de atendimento médico (BAMs) da unidade de saúde. Os outros cinco homens socorridos e levados para o Hospital municipal Evandro Freire, na Ilha, também já estavam sem vida quando chegaram. No dia da ação, que é considerada a mais letal da História do Rio, a Polícia Civil afirmou que “todos os suspeitos foram socorridos” para três unidades. O Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, também recebeu outros baleados. Nos boletins consta o estado em que os corpos chegaram nos hospitais. Cinco dos 28 mortos, levados para a unidade da Ilha, são descritos nos documentos com “faces dilaceradas”. Em três documentos produzidos no Souza Aguiar, aparece a descrição de corpos eviscerados.

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Ainda de acordo com os relatórios dos médicos, nenhum dos homens estava com identificação. Os corpos foram levados para o Instituto Médico-Legal (IML). Todos eles foram levados pela Polícia Civil e deram entrada no setor de politrauma nas unidades de saúde. Os relatórios apontam também que eles foram atingidos por armas de fogo, e os disparos acertaram o rosto, o abdômen e as costas. Em nenhum dos documentos constam nomes. Os BAMs foram encaminhados à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ).

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Segundo os boletins, o primeiro atendimento no hospital da Ilha ocorreu às 9h19. O homem, por causa de um ferimento por arma de fogo, apresentava o rosto “totalmente dilacerado”. Os outros mortos, de acordo com os documentos, tinham marca de tiros no peito, rosto, barriga e outros membros inferiores. Todos tinham marca de disparos de arma de fogo no corpo. Já o último atendimento aconteceu às 13h13.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, a advogada Nadine Monteiro Borges, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, da Ordem dos Advogados do Brasil — RJ, afirmou que “o que é apontado nos boletins demonstra indício de desfazimento de cena de crime”. Nadine disse ainda que “eles (os policiais) transformaram uma obrigação num roteiro, às avessas, de fraude processual”. Nesta sexta-feira, dia 14, a assessoria de imprensa da OAB-RJ afirmou que nenhum representante iria comentar os boletins.

Na determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e que foi corroborada pelo plenário, que só permite operações em caráter excepcional no Rio durante a pandemia da Covid-19, o estado deveria orientar a seus agentes para “evitar a remoção indevida de cadáveres sob o pretexto de suposta prestação de socorro”. O objetivo era que fossem preservadas as cenas do crime e todos os vestígios da ação policial.

Segundo a Polícia Civil, o que culminou na ação na favela — que fica ao lado do complexo de delegacias da instituição — foi uma investigação que apontou a cooptação de menores por parte dos traficantes. No dia da ação, os investigadores dizem que tinham o objetivo de cumprir 21 mandados de prisão contra pessoas denunciadas. Todos os suspeitos foram identificados apenas por fotografias em redes sociais. Por quase nove horas os agentes ficaram na comunidade. Moradores relataram momentos de terror.

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