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Em 2019, governo Bolsonaro censurou tirinha da Mafalda no Enem

Jair Bolsonaro e o então ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez
Jair Bolsonaro e o então ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. Foto: Divulgação/MEC

Em 2019, o governo Bolsonaro censurou uma questão que continha tirinha da Mafalda no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Uma comissão montada para avaliar as questões não aprovou enunciado que continha história da personagem de quadrinhos. “Gera polêmica desnecessária”, foi a conclusão.

A tirinha em questão tratava de um diálogo entre Mafalda, prestes a entrar para o jardim de infância, e sua mãe, que estava apreensiva com a nova fase da vida da filha. Mafalda tenta tranquilizá-la:

“Sabe, mamãe, eu quero ir para o jardim de infância e estudar bastante. Assim, mais tarde não vou ser uma mulher frustrada e medíocre como você”.

Para o governo, havia uma interpretação feminista nos quadrinhos.

Veja a tirinha:

A tirinha de Mafalda censurada pelo governo Bolsonaro
A tirinha de Mafalda censurada pelo governo Bolsonaro. Foto: Reprodução

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Inep criou comissão para avaliar questões como a de Mafalda

No ano em questão, para atender aos desejos de Jair Bolsonaro, Marcus Vinícius Rodrigues, então presidente do Inep, criou comissão para avaliar ideologicamente as questões do exame. O grupo era composto por procurador de Justiça, diretor do Inep e ex-aluno de Ricardo Vélez Rodríguez, então ministro da Educação.

Eles se reuniram durante dez dias em março daquele ano e usaram carimbos de “sim” ou “não” para aprovar ou rejeitar as questões. Ao final dos trabalhos, excluíram 66 questões da prova. Não consultaram a equipe técnica do Inep, que já havia aprovado os itens.

Em planilha, eles justificaram, de maneira rasa, o motivo da censura de cada questão. Nenhuma das perguntas foi divulgada porque elas não foram deletadas do Banco Nacional de Itens. No futuro, elas podem aparecer em versões do exame e devem permanecer em sigilo.

Os servidores do Enem pediram que 38 das 66 questões fossem reconsideradas. Concordaram, entretanto, com a exclusão das outras 28. O contraparecer nunca foi avaliado pela presidência do Inep.

Bolsonaro quer que Enem tenha “a cara do governo” de novo

Dois anos depois do episódio, o governo volta a interferir no Enem. O Inep passou a imprimir a prova previamente. O procedimento é inédito e não foi adotado em anos anteriores. Com isso, mais pessoas tiveram acesso ao exame antes da aplicação.

Quem examinou a primeira versão foi o diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep, Anderson Oliveira, que está no cargo desde maio. 24 questões foram retiradas da prova após “leitura crítica”. Algumas dela foram consideradas “sensíveis”.

A retirada de questões da prova para deixá-la com a “cara” do governo, deixou o Enem descalibrado. O exame tem uma quantidade de questões consideradas fáceis, médias e difíceis. 13 das questões suprimidas foram reinseridas após constatar que houve mudanças no nível de dificuldade.

 

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