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Diretor do Datafolha não consegue explicar pergunta sobre Lula em pesquisa

Lula em entrevista ao DCM no começo de 2020. Foto: Paulo Pinto/FotosPublicas

Da Coluna da ombudsman Flavia Lima, da Folha de S.Paulo.

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“Maioria acha Lula culpado; candidatura divide eleitor”, estampou a Folha em manchete da edição impressa de segunda (22), em referência ao Datafolha sobre o tema.

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Leitores alegaram que a pesquisa extrapolou a política e promoveu um julgamento fora dos tribunais, baseado em uma cobertura acrítica da Lava Jato. Outros viram problemas na formulação da pergunta.

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É a segunda vez que o Datafolha afere se os brasileiros consideram ou não justa a prisão do ex-presidente Lula.

Na primeira vez, em abril de 2018, foi perguntado: “No sábado passado Lula foi preso. Na sua opinião, a prisão de Lula foi justa ou injusta”?

Semana passada, a pergunta foi: “Em 2017 o então juiz Sergio Moro condenou Lula à prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá. Na sua opinião, a condenação de Lula na época foi justa ou injusta?”.

Muitos viram indução na questão. Diante das revelações da Vaza Jato, questionaram por que incluir o “à época” na pergunta, argumentando que faria mais sentido perguntar qual avaliação o entrevistado faz da prisão hoje.

Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, disse à coluna que pesquisas têm por objetivo acompanhar as percepções que a opinião pública forma sobre determinados fatos. “Nesse sentido, na pergunta referida, o termo ‘na época’ foi incluído para situar o entrevistado de forma a não confundir com o julgamento atual do caso pelo STF. Trata-se de um recurso técnico para ajudar a padronizar o entendimento da questão por todos os entrevistados”, afirmou.

Paulino disse que a percepção da população se dá para todos os assuntos públicos, sejam políticos, sociais, econômicos ou jurídicos. “Ou só deveríamos perguntar para economistas sobre expectativa de inflação ou para epidemiologistas se a pandemia está controlada? Pesquisas medem percepção e não conhecimento”.

A dúvida dos leitores é legítima, afinal o modo como as perguntas são formuladas importa. O que o caso sugere é que as eleições de 2022 estão bem mais perto do que os muitos meses até lá indicam. E o leitor já deu mostras de que está atento à cobertura do jornal no que promete ser um longo período pré-eleitoral.