Empresas listadas na Bolsa reduziram seus investimentos desde o golpe contra Dilma
De Júlia Moura e Eduardo Cucolo na Folha de S.Paulo.
O investimento voltado para a modernização e a ampliação das estruturas de companhias listadas na Bolsa brasileira caiu drasticamente na última década, segundo levantamento da Economatica, empresa provedora de dados financeiros.
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Estudo que analisou 221 companhias de capital aberto nos últimos dez anos mostra que o desembolso, considerando a inflação, caiu de R$ 338 bilhões, em 2011, para R$ 272 bilhões em 2019, antes de a pandemia provocar um mergulho mais profundo ainda, levando o investimento a R$ 153 bilhões no ano passado.
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O que mais preocupa nem é a cifra em si, mas o efeito dessa redução e o que ele sinaliza.
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A Economatica avaliou o valor central dessa série histórica considerando quanto investimento seria necessário para evitar a desvalorização do patrimônio dessas empresas (tecnicamente, extraiu a mediana do investimento em relação à depreciação).
O resultado dessa relação entre capex e depreciação é um índice —e quando ele fica abaixo de 100% significa que o investimento não é suficiente para repor a perda de valor da empresa no tempo.
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Em 2011, esta relação estava em 219,5%, ou seja, empresas geravam valor, ainda sob efeito do crescimento provocado pelo ciclo de valorização das matérias-primas.
Desde então, a relação desacelerou. Foi a 101% no ano do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Caiu a 94% em 2017, ano em que o presidente Michel Temer foi gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS. No fim da gestão Temer, em 2018, ensaiou uma recuperação, indo a 109,3%. Mas voltou a cair para 91,1% no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro.
“Quando todo mundo reduz esse tipo de investimento é sintoma de que algo está errado na macroeconomia, e não simplesmente no ciclo da empresa”, diz Joelson Sampaio, professor da FGV EESP (Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo).
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