Entidades jornalísticas repudiam coação de campanha de Tarcísio para que repórter apagasse vídeo

Entidades jornalísticas e representantes de classe repudiaram nesta terça-feira (25) a coação cometida por membros da campanha do candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) a um jornalista da Jovem Pan.
Um áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo aponta que um membro da campanha do candidato de Jair Bolsonaro (PL) mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens de um agente de segurança disparando sua arma em Paraisópolis, na zona oeste de São Paulo, no último dia 17, o que interrompeu a agenda do candidato e terminou com um suspeito morto, pela polícia ou por seguranças de Tarcísio – com o vídeo apagado, não se pode afirmar ao certo quem foi o autor dos disparos.
“Você filmou os policiais atirando?”, questiona um integrante da campanha em áudio obtido pela Folha de S. Paulo. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”, responde o profissional da emissora.
O integrante da campanha pergunta também se ele havia filmado as pessoas que estavam no local onde o evento com Tarcísio foi realizado. “Você tem que apagar”, diz o homem. Leia, abaixo, as manifestações de entidades e representantes dos jornalistas acerca do ocorrido.
“Atentado à liberdade de imprensa”
Pedir para o repórter cinematográfico apagar as imagens que fez é claramente uma tentativa de censura e um atentado à liberdade de impensa. E é sempre bom lembrar que a Constituição do Brasil estabelece as liberdades de expressão e de imprensa, proibindo a censura prévia.
Portanto, não há base legal para a ação dos membros da campanha do candidato. A Fenaj espera que o candidato venha a público manifestar-se em favor do livre exercício do Jornalismo e informar a sociedade sobre as medidas tomadas no âmbito da sua campanha.
Samira de Castro, presidente da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas
“Inegável cerceamento da atividade jornalística”
A julgar pelas informações divulgadas até o momento, a ação da equipe da campanha de Tarcísio de Freitas denota inegável cerceamento da atividiade jornalística, atingindo o direito à informação e a liberdade de imprensa.
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros pontua que a obstrução à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade (Art 1, inciso V). É preciso que o candidato se manifeste sobre as lamentáveis ocorrências.
Rodrigo Ratier, professor de jornalismo da USP, colunista do portal UOL e integrante da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do estado de São Paulo (SJSP)
“Assédio Explícito”
O que aconteceu foi uma tentativa clara de intimidação, de assédio explícito, para que um trabalho jornalístico fosse silenciado. Houve um registro feito por um profissional, e a equipe do candidato claramente intimida o profissional para que esse registro fosse apagado.
Obviamente, é uma tentativa de censura, uma tentativa de não divulgar as informações. E se há essa preocupação por parte da campanha do candidato, significa que, de alguma coisa, ele estava com medo.
Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
“Cheirando a tentativa de destruição de provas”
Aquelas imagens são provas e, como provas, elas precisam ser resguardadas e entregues à autoridade policial investigatória para que possa solucionar o caso. Do jeito que está, fica cheirando a uma tentativa de destruição de provas.
Isso mostra uma certa coerência com o comportamento do próprio candidato Tarcísio, que, no início da campanha, afirmou ser contrário à utilização de câmeras nas fardas de policiais.
Leonardo Sakamoto, doutor em ciência política e professor de jornalismo na PUC-SP