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Erdogan chama população turca para as ruas; Alemanha não autoriza pouso de seu avião

Da ANSA:

 

O Estado-Maior do Exército da Turquia anunciou nesta sexta-feira (15) que tomou o controle do país, em um golpe contra o primeiro-ministro Binali Yildirim e o presidente Recep Tayyip Erdogan.

“Para recuperar nossos direitos humanos, constitucionais e democráticos, estamos oficialmente assumindo o controle do país”, diz uma declaração da ala das Forças Armadas responsável pela revolta, que mantém o antigo chefe do Estado-Maior como refém.

Segundo os militares, todas as relações exteriores serão mantidas, e a garantia do Estado de Direito será “uma prioridade”. Logo após tomarem o poder, eles decretaram toque de recolher e lei marcial, o que suspende liberdades fundamentais, veta manifestações, censura opiniões e restringe o direito de ir e vir.

Por volta das 22h (horário local), tiros foram ouvidos em Ancara, capital do país, onde caças faziam voos rasantes e helicópteros militares tomavam os céus. Em seguida, foram fechadas as duas pontes sobre o estreito de Bósforo, em Istambul, no sentido Ásia-Europa – no caminho inverso, o tráfego seguiu fluindo.

Logo depois foi bloqueado o acesso às redes sociais, e militares invadiram a sede da TV estatal. Além disso, tanques se dirigiram ao Aeroporto Internacional de Ataturk, em Istambul, o mais movimentado do país. Todos os voos para ele foram cancelados.

A sede do partido AKP, fundado por Erdogan e liderado por Yildirim, também foi invadida pelos militares. “Os autores [do golpe] pagarão o preço mais alto”, garantiu o premier que ainda prometeu usar “força contra a força”. Nos últimos meses, o presidente Erdogan vinha sendo acusado de promover uma deriva autoritária no país, atingindo até alguns de seus antigos aliados.

Além disso, o país convive com a ameaça do terrorismo do Estado Islâmico (EI) e de grupos separatistas curdos. O partido AKP, fundado por Erdogan, é acusado de interferir na justiça para abafar casos de corrupção e de censurar a imprensa. Para isso, fechou jornais opositores e afastou juízes tidos como “adversários”.

Erdogan foi primeiro-ministro até 2014, mas no fim de seu mandato foi eleito presidente, mantendo o poder em suas mãos, apesar de a Turquia ser parlamentarista. Nos últimos meses, vinha tentando emplacar uma mudança para o regime presidencialista, o que lhe deria ainda mais força. Segundo a emissora “CNN”, apesar do golpe, ele se encontra a salvo.

“É um ataque à democracia turca. Um grupo no interior das Forças Armadas tentou arruinar um governo democraticamente eleito”, disseram fontes da Presidência citadas pelo jornal “The Guardian”. Tiros foram ouvidos nos arredores do Palácio Presidencial.

“Ainda sou presidente da Turquia e comandante-em-chefe. Resistam ao golpe de Estado nas ruas e nos aeroportos”, disse o mandatário, que estaria em um avião para a Alemanha. No entanto, a emissora “MSNBC” disse que Berlim não autorizou que a aeronave do presidente pousasse no país. Ele acusou o movimento Gülen, liderado pelo pregador exilado nos Estados Unidos Fethullah Güllen, de ser o responsável pelo golpe.

A revolta dos militares pode ter efeitos geopolíticos incalculáveis. O país faz fronteira com a Síria e integra a coalizão internacional contra o Estado Islâmico. Além disso, faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar do planeta e que ainda não se posicionou sobre o golpe.

Também é incerta qual será a reação dos movimentos separatistas curdos, duramente reprimidos por Erdogan e autores de diversos atentados no país nos últimos anos.