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Eric Clapton faz música contra lockdown e internautas desenterram seu passado racista

Eric Clapton. Foto: Richard Isaac/Shutterstock

De Amanda Capuano na Veja.

Chegou às plataformas de streamings nesta sexta-feira, 4, a musica Stand and Deliver, composta por Van Morrison e interpretada por Eric Clapton como uma forma de “protesto” contra as políticas de lockdown e distanciamento social implantadas no Reino Unido para conter a pandemia de coranavírus. Com frases como “você quer ser um homem livre ou um escravo?”, que comparam o respeito aos protocolos de saúde à escravidão, a canção gerou reações negativas nas redes sociais. Além de criticarem o negacionismo da dupla, algumas pessoas usaram a controvérsia para ressuscitar o histórico de declarações de cunho racista de Clapton, que entoou discursos supremacistas na década de 70.

Uma das críticas foi feita pela atriz Jameela Jamil, famosa pela comédia The Good Place e pelo ativismo em prol de causas sociais. No dia 27 de novembro, logo após o anúncio da parceria de Clapton e Morrison, Jameela, que tem ascendência paquistanesa e indiana, compartilhou no Twitter um discurso de Clapton durante um show em 1976. “Este é o homem que quer que vocês saiam às ruas enquanto ele se senta em segurança em sua mansão com os melhores médicos à disposição”, escreveu ela. No discurso reproduzido pela atriz, Clapton pediu para que os “estrangeiros” da plateia levantassem as mãos, sugerindo, em seguida, que fossem embora não apenas do show, mas também do país. “Vamos impedir o Reino Unido de virar uma colônia negra. Expulsem os estrangeiros, mantenham a Inglaterra branca. Os negros, árabes e jamaicanos não pertencem a este país e nós não os queremos aqui”, gritou ao público sem poupar termos depreciativos. “Precisamos deixar claro que eles não são bem-vindos. A Inglaterra é um país para brancos, o que está acontecendo conosco?” continuou.

Na época, o discurso racista de Clapton inflamou o cenário musical inglês e inspirou o movimento Rock Against Racism, que se opunha à presença do supremacismo branco no gênero musical. Em 2018, no documentário Life in 12 Bars, o cantor comentou as declarações e disse que costumava ser “uma pessoa nojenta”, influenciado pela “Invasão Árabe”. “Havia essa atmosfera nos anos 70. Eu não estou arranjando desculpas, era algo horrível”, disse ele, antes de afirmar que, apesar disso, considerava a época “divertida”.

Sobre a nova canção, Stand and Deliver, o roqueiro afirmou em entrevista à Variety que está “profundamente aborrecido” com os shows cancelados na tentativa de barrar o avanço da pandemia, que enfrenta uma segunda onda no continente. “Muitos de nós apoiam Van e seu esforço para salvar a música. Ele é uma inspiração. Precisamos nos posicionar e sermos notados para encontrarmos uma saída dessa bagunça”, disse ele, fazendo referência ao autor da canção, que já lançou outras três músicas contra as restrições do primeiro ministro Boris Johnson – uma delas, No More Lockdown, chamando o governo de fascista por aplicar protocolos que limitariam a liberdade (de espalhar o vírus, ao que parece) da população britânica.

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