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Estadão diz em editorial que Bolsonaro decidiu governar “como um falso Messias”

Jair Bolsonaro – AFP/Arquivos

O jornal O Estado de S.Paulo volta a detonar Bolsonaro em editorial. “Depois de ter distribuído pelo WhatsApp um texto segundo o qual o País é ‘ingovernável’ sem os ‘conchavos’ políticos e de dizer que conta ‘com a sociedade’ para ‘juntos revertermos essa situação’, o presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer apelos diretos ao ‘povo’ contra o Congresso – em relação ao qual nutre indisfarçável desprezo, embora tenha sido obscuro parlamentar durante 28 anos. Cresce a inquietante sensação de que Bolsonaro decidiu governar não conforme a Constituição e com respeito às instituições democráticas, mas como um falso Messias cuja vontade não pode ser contrariada por supostamente traduzir os desejos do ‘povo’ e, mais, de Deus. Ao que parece, Bolsonaro passou a acreditar de fato na retórica salvacionista que permeou sua campanha eleitoral, alimentada por alguns assessores e pelos filhos com o intuito de antagonizar o Congresso – visto como o lugar da ‘velha política’ e, portanto, como um obstáculo à regeneração prometida pelo presidente”.

O jornal desenvolve o raciocínio: “Ao cabo de cinco meses de governo, em que todos os indicadores sociais e econômicos apresentaram sensível deterioração, fruto de sua inação administrativa e da descrença generalizada e cada vez maior na sua capacidade de governar, Bolsonaro começa a flertar com a ‘ruptura institucional’, expressão que apareceu no texto que o presidente chancelou ao distribuí-lo na sexta-feira passada. Diante da repercussão negativa, Bolsonaro, em lugar de serenar os ânimos e demonstrar seu compromisso com a democracia representativa, estabelecida na Constituição, preferiu ampliar as tensões, lançando-se de vez no caminho do cesarismo”.

E conclui: “Com 13 milhões de desempregados, estagnação econômica e perspectivas pouco animadoras em relação às reformas, tudo o que o País não precisa é de um presidente que devaneia sobre seu papel institucional e político e que, em razão disso, estimula seu entorno e a militância bolsonarista – a que Bolsonaro dá o nome de ‘povo’ – a alimentar expectativas sobre soluções antidemocráticas, como um atalho para a realização de ‘profecias’. O reiterado apelo de Bolsonaro ao ‘povo’ para fazer valer uma suposta ‘vontade de Deus’ envenena a democracia e colabora para a ampliação da cisão social entre os brasileiros e destes com a política. A esta altura, parece cada vez mais claro que Bolsonaro não estava para brincadeira quando disse, em março, que não chegou ao governo para ‘construir coisas para nosso povo’, e sim para ‘desconstruir muita coisa’. Espera-se que a democracia brasileira e suas instituições resistam a essa razia”.