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“Eu ganhava?”: laranja de Carlos Bolsonaro morava em MG e nunca apareceu na Câmara

O gabinete de Carlos Bolsonaro na câmara de vereadores do Rio é uma usina de ilegalidades (Sergio Lima/AFP)

Marta Valle não foi a única a viver em Minas e ser nomeada para o gabinete do 02 do presidente Jair Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio.

Gilmar Marques, de 60 anos, viveu em Juiz de Fora e, depois, em Rio Pomba, também em Minas, onde mora até hoje. O município fica a 274 quilômetros do centro do Rio, onde ele deveria dar expediente. Marques é um pequeno empresário e representante comercial na área farmacêutica.

Ele entrou no caminho da família Bolsonaro por ter sido companheiro de Andrea Siqueira Valle, de 47 anos, fisiculturista e irmã de Ana Cristina Valle e também investigada por peculato e lavagem de dinheiro.

Os dois se conheceram em Juiz de Fora, em 1999, passaram a viver juntos e ela engravidou depois de alguns meses, mas se separaram em seguida. A filha nasceu em agosto de 2000 já em Resende, no Rio — para onde Andrea havia retornado. Marques seguiu em Minas.

Ele foi nomeado para o gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara dos Vereadores em 4 de janeiro de 2001, segundo reportagem da Época.

O cargo escolhido: DAS-7. Com correção inflacionária do período, o salário bruto é de R$ 7.900, e com os eventuais adicionais o total chegaria a R$ 14 mil. A nomeação de Marques perpassa mandatos. A exoneração só aconteceu sete anos e três meses depois, em 1º de abril de 2008.

Numa conversa por telefone, a reportagem indagou se ele se recordava do gabinete em que havia trabalhado para o clã Bolsonaro e o que fazia.

Ele disse inicialmente que não se recordava. Depois, outra vez indagado sobre o assunto, perguntou à reportagem se não havia algum engano em relação ao nome dele. A conversa seguiu sem que Marques também se recordasse sobre o salário que recebia.

“Meu Deus do céu. Ah, moça, você está me deixando meio complicado aqui. Eu ganhava? Isso aí você deve estar enganada”, disse em alentado sotaque mineiro.

Como é possível trabalhar no Rio, no gabinete de um vereador, e morar em Minas Gerais?
Mais uma vez, faltaram palavras a Marques.

“Ah, moça, estou meio por fora disso”.

Sobre a possibilidade de ter devolvido dinheiro do salário para o vereador, ele comentou simplesmente: “Estou por fora disso”.

No momento em que foi questionado sobre se sabia que havia sido nomeado, desligou o telefone.