Apoie o DCM

Flávio Dino diz que Bolsonaro age como “profeta do caos” em meio à pandemia

Flávio Dino e Jair Bolsonaro. Foto: Wikimedia Commons

De Alba Santandreu na Agência Efe.

(…)

Efe: Como o senhor avalia a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta?

Dino: Não conheço nenhum caso similar na história brasileira, em que um presidente da República, em vez de mitigar uma crise, ele é o agente catalisador dessa crise, quase como se fosse um cavaleiro do apocalipse, um profeta do caos. Ele anuncia e tenta realizar o caos, e começa isso a partir da desestruturação da sua própria equipe no pior momento. É evidente que ele tem o poder e a prerrogativa de escolher seus auxiliares. Não é o tempo adequado, no meio de um tsunami, trocar a tripulação do navio. Isso pode afundar o navio. É a consumação de um equívoco.

Efe: O senhor e outros líderes políticos do campo progressista assinaram um manifesto pedindo a renúncia do presidente. Considera que a saída de Bolsonaro seria adequada no momento?

Dino: Consideramos que o manifesto cumpre vários papéis, sobretudo o de apresentar uma perspectiva pós-pandemia. Acho que neste momento não há espaço para discutir impeachment ou nada desse tipo, embora haja motivos constitucionais.

Nós apresentamos um plano emergencial, econômico e sanitário, mas dissemos: depois vamos precisar de uma saída institucional. Pela atuação do Bolsonaro, é muito difícil que essa repactuação do país se dê a partir dele. Nós estamos vendo que, além das terríveis perdas humanas, nós estamos vivenciado, provavelmente, a maior crise econômica da história brasileira (…) Neste momento, precisamos de líderes que sejam capazes de grandes pactos, que coloquem a união sobre as diferenças, que coloquem um consenso sobre dissensos. E o Bolsonaro é exatamente o ser antinômico em relação a isso. Além de não buscar a união e o consenso, ele busca exatamente o contrário, ele busca o conflito, ele busca a divergência. Ele toma atitudes inesperadas, intempestivas.

É muito difícil imaginar que, após essa crise sanitária, nós vamos enfrentar uma crise econômica gigantesca que pode se traduzir em uma crise social e mesmo da democracia com Bolsonaro no comando.

Efe: O governador de São Paulo, João Doria, e o do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, se transformaram nos rostos mais visíveis da oposição a Bolsonaro, e essa oposição parte da própria direita. Como o senhor analisa o papel da esquerda nessa crise? Acredita que está faltando articulação?

Dino: Nós temos conseguido nessa crise o principal, que é atrair forças diferentes da esquerda para as nossas posições. Não basta a esquerda ter razão, é preciso que ela tenha capacidade de fazer com que suas proposições sejam vitoriosas.

(…)