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Haddad: Lava Jato tem pessoas que usam a operação com fins políticos

Haddad

O ex-prefeito Fernando Haddad diz que há pessoas na Lava Jato que querem usar a operação para fins políticos. Na entrevista que concedeu à Folha, ele não quis dar nomes, mas atribui à parcialidade da operação uma das razões da perda de votos do PT no Brasil, inclusive em São Paulo. “O PT perdeu 60% dos votos entre 2012 e 2016. Em São Paulo, 40%. Hoje a situação mudou”, disse. “As informações relativas a outros partidos estavam represadas”, afirmou. Ele aponta uma aliança entre mídia e Judiciário que prejudica a Justiça e cita a divulgação de informações distorcidas. Por exemplo, denúncias feitas contra ele, na véspera da eleição, foram desmentidas depois. A seguir, um trecho da entrevista:

Que balanço faz da Lava Jato?
A Lava Jato não é uma coisa só, são várias ações, inclusive de pessoas que não se sentam à mesma mesa. O MPF, na pessoa do procurador-geral [Rodrigo Janot], descortinou uma realidade diferente da que os brasileiros imaginavam até o ano passado, quando todas as informações relativas a outros partidos estavam represadas. O resultado [de 2016] não deixa de ser um reflexo disso.

Inclusive sua derrota?
A eleição do PT de maneira geral, no Brasil. O PT perdeu 60% dos votos entre 2012 e 2016. Em São Paulo, 40%. Hoje a situação mudou.

Por quê?
O procurador-geral [Rodrigo Janot] mostrou que o problema transborda da questão partidária para o sistema político. Mas há uma tensão dentro Lava Jato, e não vou nominar por razões óbvias, mas dentro da operação há os que querem passar a República a limpo e os que usam a operação com fins políticos.

Há uma politização da Justiça?
O Judiciário é fundamentalmente contramajoritário, ademocrático, inclusive porque juízes não são eleitos. E por uma razão simples: não devem e não podem atender ao critério da maioria ou minoria. O problema na Lava Jato é que esse distanciamento foi rompido numa aliança com a mídia. A Justiça não pode ficar refém da opinião pública.

O dono da UTC disse que pagou despesas de sua campanha, em 2012, via caixa dois.
O exemplo vem a calhar. Ricardo Pessoa diz que pagou, depois da minha eleição, R$ 2,6 milhões para uma gráfica. A única coisa que eu sabia é que havia frustrado expectativas da UTC no começo do meu governo, suspendendo sua principal obra na cidade. O que disse o dono da tal gráfica, que finalmente prestou depoimento, em junho deste ano? Que recebeu os recursos, mas não por serviços prestados à minha campanha. Não há reparação possível para isso. A eleição [2016] passou.

A acusação lhe tirou votos?
O fato é que tive que responder sobre isso. A Folha publicou na antevéspera do primeiro turno longa matéria sobre o assunto. Como é que eu estimo o prejuízo? Agora está tudo em pratos limpos, acabou o assunto, só que estamos em julho de 2017. Faz o quê?