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Janio de Freitas diz que “debate reativo a Risério” mostra que o racismo “é tema incendiário”

A imagem de Janio de Freitas
Janio de Freitas no Roda Viva. Foto: Reprodução/YouTube

O veterano jornalista Janio de Freitas aborda o artigo sobre “racismo inverso” do antropólogo Antonio Risério na Folha de S.Paulo em sua coluna nesta domingo (23). Ele enxerga méritos na discussão, respeita a reclamação de jornalistas dentro do veículo de comunicação e a direção.

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Janio de Freitas fala sobre Risério

Ele inicia a coluna: “O debate reativo a Risério mostra mais uma vez quanto o racismo brasileiro, que não se limita ao negro, é tema incendiário. E também mostra o avanço negro, instigado pela Constituição de 88, em muitos espaços e sonoridades. Para a “elite” negra, a desigualdade adquiriu características próprias, em nada compartilhadas pelos demais. A estes milhões, eventuais apoios são de pioneiros, a exemplo de Luiza Trajano e seu magazine”.

Desenvolve o argumento: “A aspereza de algumas reações a Risério e a outros comentaristas não foi de debate. O problema é grave demais, enraizado demais, tem dimensões e complexidade demais. É compreensível que se preste a extravasar ímpetos reprimidos. O racismo está entre os males que exigem mesmo um enfrentamento vigoroso, furioso até, o velho e esquecido vai-ou-racha de tantos passos civilizatórios. Mas não é preciso que alguns mal-entendidos fiquem pelo caminho”.

Defende o jornal: “A publicação me pareceu correta. Várias críticas atribuíram-na à busca de sensacionalismo pela Folha. Desde muito tempo, a Folha tem, sim, uma queda por polêmicas e questões com potencial sensacionalista. É fruto da ideia de que assim afirma independência e neutralidade aos olhos dos leitores. É engano. O resultado comum das polêmicas é satisfação de um lado compensada pelo desagrado do outro. Na Folha, a neutralização mútua tem ficado bem à vista em manifestações de leitores”.

Desenvolve essa defesa: “Diretor de Redação, Sérgio Dávila ficou confundido com o cargo, ou com a maneira como, a seu ver, deve exercê-lo. Dávila recebeu pronta a inflexão da Folha —decisão empresarial— para os limites do centro-direita. Se o jornal ali está em quarentena, por um equívoco analítico e de composição da equipe, ou se ali está para ficar, não foi definido. Mas o reconhecimento desse erro estratégico, que renegou a busca de equilíbrio consagradora do jornal, não inclui tolerância com o racismo, qualquer racismo. Nem com outros horrores do gênero”.

E conclui: “A turbulência decorrente do tal artigo é muito benfazeja. Fez transbordarem conceitos e sentimentos reprimidos, abertura para mais. Fará bem aos leitores. E fez um bem incalculável ao jornalismo brasileiro: o manifesto com cerca de 200 signatários da Folha, questionando os espaços dados a posições racistas e outras de semelhante indignidade, as escolhas de colaboradores de vezo antidemocrático, já é um marco, como disse Cristina Serra, tão brilhante. Os manifestantes vêm dizer que são jornalistas com vida, são gente, não são robôs. São pessoas, são jornalistas que querem jornalismo”.

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