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Juízes cobram caro para exercer funções moralizadoras, diz cientista político

Sérgio Moro, participa de audiência pública na Comissão Especial do Novo Código de Processo Penal (PL 8.045/10), na Câmara dos Deputados
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Da BBC

Diante de um cenário de corrupção de políticos, crise econômica e descrédito da população em relação aos seus representantes, um grupo de servidores do Estado se insurge para tentar reestabelecer os valores republicanos no Brasil.

Foi o que aconteceu nos anos 1920, 1930, quando um movimento de tenentes do Exército tentou tomar o poder e impor uma agenda de moralidade administrativa. E é, de acordo com o cientista político Christian Lynch, o que tem acontecido nos anos 2000 e 2010, com um movimento de juízes de diferentes instâncias que passou a usar a interpretação das leis para colocar quadros da política nacional atrás das grades e rever benesses destinadas às elites nacionais – como o foro privilegiado derrubado essa semana pelo STF.

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BBC Brasil – Não é incoerente que os juízes defendam a moralidade na administração pública mas defendam receber auxílio-moradia de cerca de R$4 mil mensais?

Lynch – Eu brinco dizendo que os guardiões da República cobram caro para exercer suas funções moralizadoras. Sem dúvida, é estranho que juízes que se digam tão republicanos e desprendidos e em nome desses valores defendam a moralidade na administração pública desejem ganhar vencimentos estratosféricos e recorram aos expedientes os mais vergonhosos para seguirem aumentando-o – como este, do auxílio-moradia de cerca de R$4 mil mensais inclusive para quem tem casa. E nesse sentido eles lançam mão de um argumento de mérito: eu me esforcei para passar no concurso público, então agora tenho direito aos privilégios. É um mero pretexto para justificar privilégios e faz parte das contradições desse liberalismo judiciarista.

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