Miriam Leitão diz que quem se enganou com Bolsonaro, que ela ajudou a subir ao poder, “o fez porque quis”

Da Coluna de Miriam Leitão no Globo.
O governo Bolsonaro acabou, mas ainda não terminou. Foi o que me disse uma fonte, um pouco antes de eu sair para tomar a primeira dose da vacina. Receber o imunizante virou festa, emoção, defesa de valores, bandeira. Não há o que Bolsonaro faça que apague as muitas gravações que existem mostrando seus ataques à vacina. Sua tardia rendição é inútil. Os últimos tempos têm sido dilacerantes. O gráfico das mortes é uma exponencial. Numa semana de muitas emergências e dores, o presidente mandou celebrar a ditadura, demitiu os chefes militares, combateu, de novo, as medidas de proteção.
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O fim do governo se vê por todos os lados. Ele virou um peso morto. O desmonte na área econômica é visível. Na quinta-feira demitiu-se o presidente do conselho do Banco do Brasil, Hélio Magalhães, e foi acompanhado pelo conselheiro José Monfort. Já saiu muita gente. Quem se enganou com esta administração o fez porque quis. O presidente intervém em qualquer setor da área econômica ou empresa. O ministro Paulo Guedes não se opõe. Ele disse, segundo o blog de Tales Faria, do UOL, que já sabia das substituições (na Petrobras e no Banco do Brasil). “O presidente não estava satisfeito e é um direito dele.” Guedes mimetiza a visão de Bolsonaro: acha que ele foi eleito rei absolutista e não presidente temporário de uma república democrática e federativa. O ministro fez feia acusação a Roberto Castello Branco. “No caso do Castello, ele, na verdade, vinha segurando aumento nos preços dos combustíveis. É claro que, quando soube que ia sair, começou a realinhar os preços.”
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O governo acabou, mas o fato de não ter terminado pesa toneladas sobre o país. O Ministério da Educação está à deriva, ajudando a passar a boiada de absurdos, conforme contou Renata Cafardo, no “Estado de S.Paulo”. Neste momento de devastação na educação, o que o país mais precisava era de ter um ministro na Educação. Não tem. As crianças e jovens estão pagando um preço intolerável. O quarto ministro da Saúde é melhor do que o terceiro, o que é fácil, mas se tentar ser eficiente, será sabotado como o primeiro. Há os ministérios que trabalham com a pauta de destruição, como o Meio Ambiente. No Itamaraty, se o inexperiente ministro Carlos Franco França seguir o cerimonial, já estaremos no lucro.
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