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Mourão “está no aquecimento antes de começar o jogo”, diz Haddad

Haddad deu entrevista ao Valor, concedida na tarde de segunda-feira em sua casa em São Paulo. “Vamos combinar de falar das coisas para a frente?”, propôs.

Sobre seu partido, diz não ter nem sequer lido a resolução do diretório nacional do PT, no dia 30 de novembro, que fez uma avaliação do processo eleitoral e da atual conjuntura. Ao analisar as perspectivas do governo Bolsonaro, afirma que haverá três núcleos centrais: o fundamentalista (coeso, com forte carga conservadora e ideológica), o econômico (“escancaradamente liberal”) e o núcleo político, formado pelo Ministério da Justiça e pelos militares. É o núcleo político, afirma, que dará o tom do novo governo, com “duas possíveis tarefas: tutela e intimidação”.

“O núcleo político é de tutela e de intimidação. Ele teve acesso ao relatório do Coaf, no mais tardar, no dia 15 de outubro. Data em que demitiu o motorista e a filha. Por que teve acesso ao relatório e a sociedade não? São questões que precisam ser respondidas. Por que o Coaf liberou para Bolsonaro e não para a sociedade questões que são de interesse público? Esse expediente, que ao que parece é de peculato, o de usar seu gabinete para fazer vaquinha para si mesmo, é um expediente muito comum no baixo clero. Inexplicável é que só tenhamos sabido agora.

Como esse núcleo vai operar é importante saber. Desde o tuíte do Villas Boas, às vésperas do julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo, essa interferência, definitivamente, veio à mesa. Qual é o significado disso? Tutela ou intimidação. Você tem um jogador do banco de reserva que está no aquecimento antes de começar o jogo”, diz sobre o caso do ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Valor: Mano Brown tinha razão ao dizer que o PT via parte do eleitorado do Bolsonaro como monstros?

Haddad: Ele não foi tão categórico. Estava no palanque e dei razão a ele no dia que falou. Eu não atentava a essa dimensão da vida nas periferias das metrópoles. Precisamos compreender e dar resposta. (…)

Valor: O que o senhor vai fazer, disputar prefeitura, governo? Rodar o país, promover seminários?

Haddad: Não passa por minha cabeça disputar. Tenho convites para rodar não apenas o país, mas também de dezenas universidades da Europa e dos EUA. Falei com [Cuauhtémoc] Cárdenas várias vezes. Estive com o [Massimo] Dalema, [Dominique] Villepin, o Varoufakis, o Sanders, estou indo visitar o [Pepe] Mujica no sítio dele. Quero manter interlocução com essas lideranças.

Valor: E com a sociedade, como pediu o Mano Brown?

Haddad: Vou manter contato também, fui muito para a periferia, mas acho importante trocar experiências com o resto do mundo. Há uma preocupação sobre como enfrentar questões comuns.