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Ombudsman da Folha diz que anúncio defendendo cloroquina não é ilegal, mas foi irresponsável

Folha de S.Paulo e a cloroquina de Bolsonaro. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução/Facebook

Da coluna da ombudsman Flavia Lima na Folha de S.Paulo.

“Há dois lugares onde o dito ‘tratamento precoce’ contra a Covid-19 ainda tem espaço: na mente dos defensores da cloroquina e na edição impressa de hoje da Folha“, escreveu um leitor na terça (23), a respeito de um anúncio publicado na página A5 do caderno de Poder.

O informe publicitário “Manifesto pela vida” tomou meia página da Folha e de pelo menos outros sete jornais.

Nele, um grupo autointitulado Médicos pela Vida defende o chamado “tratamento precoce”, nome fantasia dado ao uso de medicamentos sem comprovação científica ou de ineficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19.

Na véspera de o país atingir a marca de 250 mil mortos pela Covid-19, é surreal que um grupo de médicos diga que cidades que adotaram as “medidas para intervenção precoce” têm mostrado bons resultados.

O que dizer da decisão do jornal de publicar o manifesto?

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Mas vale qualquer coisa na publicidade? Sobre o assunto, o diretor comercial da Folha, Marcelo Benez, diz que o jornal defende a “liberdade de expressão comercial”, segundo a qual todos que têm uma mensagem a ser divulgada têm o direito de fazê-lo, desde que ela não viole a lei.

“O anúncio em questão pode estar errado do ponto de vista científico, mas não quebra nenhuma lei”. O jornal, afirma Benez, respeita rigorosamente a separação entre Redação e Publicidade, garantindo independência às áreas.

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Segundo Marcelo Träsel, presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), é comum que o espaço comercial contradiga o noticiário, mas o informe apareceu no momento mais agudo de uma pandemia na qual os jornalistas têm atuado na linha de frente.

“A publicação do anúncio foi percebida como um sinal de irresponsabilidade e falta de sensibilidade por parte dos gestores. Pode ser um golpe duro no moral das Redações”, diz.

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É desanimador, como disse uma leitora, combater desinformação na página par e disseminá-la na ímpar.

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VEJA TAMBÉM – Sleeping Giants diz ser inacreditável Folha e O Globo lucrarem com anúncios fake sobre cloroquina