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Racha no partido de Bolsonaro leva à expulsão de sua secretária-geral em São Paulo

De Severino Motta no BuzzFeed Brasil.

O PSL expulsou do cargo de secretária-geral do partido em São Paulo a empresária Letícia Catel, integrante do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência. Letícia é próxima da família Bolsonaro e nos últimos anos possuía livre acesso ao presidenciável. Letícia também foi destituída do diretório nacional e da Executiva Nacional da sigla, o que deve levar outros membros da ala paulista do partido a abandonarem seus postos.

Para além do trabalho político e de organização interna da sigla, Letícia mantém presença constante em redes sociais, onde defende de maneira ferrenha as bandeiras do bolsonarismo e, por vezes, posta fotos em que empunha armas – e falando que armas valem mais que feministas “mostrando os peitos na rua”. Foi ela quem protagonizou uma discussão com a jornalista Christina Lemos, da TV Record, após fotografar o celular da repórter acusando-a de perseguição ao candidato Bolsonaro. Ela também esteve recentemente no programa “Pânico”, da Jovem Pan. Nele, ao comentar a tentativa de assassinato de Bolsonaro, disse que hoje é mais seguro vestir uma camisa do comunista Che Guevara do que apoiar o candidato do PSL.

Sua expulsão dos cargos no PSL, no entanto, está muito mais ligada às desavenças internas com o presidente em exercício do partido, Gustavo Bebianno, do que com suas postagens em redes sociais ou aparições na mídia. Por um lado, Bebianno comanda com mão de ferro o partido. Fez a negociação das candidaturas e ameaça adversários, como revelou o BuzzFeed News. Também foi acusado pelo príncipe Luiz Philip de Orleans e Bragança, filiado ao partido, de agir “como um agiota”, de acordo com a revista Crusoé. Por outro lado, Letícia Catel, que vem de uma família com negócios no ramo da metalurgia, goza de boa situação financeira e, sem precisar de cargos político-partidários para sobreviver, abraçou como voluntária as bandeiras da direita e delas fez sua luta política nos últimos anos.

Essa situação lhe dá liberdade e não exige que ela bata continência a caciques partidários que controlam os recursos do PSL. Isso, no entanto, acabou transformando-a numa espécie de para-raio dos insatisfeitos com a condução do partido por Bebianno e seu braço direito, o vice-presidente em exercício do PSL, Julian Lemos. Sempre que insatisfações surgiam nos Estados, segundo pessoas próximas a Letícia, muitos recorriam a ela para reclamar das negociações. Nessa toada, as desavenças com Bebianno não foram poucas.

Aliados de Letícia no partido, falando na condição de anonimato para evitar o clima de perseguição que está instaurado na legenda, citaram, por exemplo, um episódio em que a colega tentou criar um grupo em aplicativos de mensagens para unificar os diversos diretórios regionais do PSL. A ideia era manter uma comunicação centralizada em que cada Estado pudesse saber o que acontecia no outro, quem era quem em cada localidade e ter informações sobre alianças e sobre como recursos eram gastos, por exemplo. O projeto, no entanto, foi derrubado por Bebianno nos primeiros dias em que começou a funcionar. Como presidente em exercício do partido, ele quis manter discretas cada uma de suas tratativas nos diferentes Estados.

Outro caso se deu quando parte do PSL tentou expulsar a candidata a deputada federal Joice Hasselmann da sigla. Bebianno queria que Letícia fosse nomeada como representante do Conselho de Ética para o serviço, algo que ela se negou a fazer e ainda contou a trama para Jair Bolsonaro. O presidenciável barrou a expulsão.

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A empresária Letícia Catel. Foto: Reprodução/Instagram