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Sérgio Mamberti revela bissexualidade aos 82 anos e diz: ‘Não adianta esconder’

Sérgio Mamberti e Ed, seu parceiro. Foto: REPRODUÇÃO/EDIÇÕES SESC

Elba Kriss entrevistou o ator Sérgio Mamberti no site Notícias da TV.

Notícias da TV – Seu livro relata muito da sua história à frente do teatro de São Paulo, mas tem momentos dedicados à Vivian, sua mulher. Você fala muito dela. É também uma dedicatória a ela por ter acompanhado você em toda essa trajetória, correto?
Sérgio Mamberti – A Vivian e eu ficamos 18 anos juntos, até a morte dela. Ela me deu três filhos. Eu tinha uma parceria extraordinária com ela. Eu via que a vida dela seria curta por causa desse processo da asma dela. Acredito até hoje que o que ela tinha, talvez, fosse fibrose cística. Para mim, sempre foi misterioso esse diagnóstico da asma. Nós tínhamos uma sincronia de pensamentos e de criatividade, embora fossemos bem diferentes. Acompanhei a Vivian até os últimos momentos dela, foi um dos momentos mais difíceis que passei na minha vida. Fiquei quase dois anos me recuperando.

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Notícias da TV – Dois anos depois, você teve outro grande encontro, outra grande história, que é o Ed…
Sérgio Mamberti – O Ed foi uma coisa mais fortuita. A Vivian foi uma escolha e também teve um lado místico nesse encontro. Mas dois anos depois (da morte da mulher), fui fazer uma peça que viajava pelo Brasil e conheci o Ed, com quem estabeleci uma grande relação de amizade. Depois, ele precisou fazer uma operação e veio para São Paulo. Ele teve que ficar seis meses aqui. E pronto, nunca mais saiu daqui (risos).

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Notícias da TV – Foram 37 anos juntos?
Sérgio Mamberti – Isso. Ele participou de 37 anos da minha vida. É uma outra relação. Uma relação também de muito carinho e de participação. O Ed era bem mais jovem que eu, mas o final da vida dele também foi complicado. Ele entrou num processo depressivo e não conseguia, profissionalmente, se estabelecer. Então, ele teve uma síndrome que se chama Wernicke-Korsakoff. Ele perdeu a mobilidade das pernas, depois o domínio da memória. Era um pouco parecido com o Alzheimer. Foram três meses que a gente lutou pela vida dele. Ele melhorou, mas estava com sequela. Sabíamos que não seria fácil, mas ele teve uma infecção urinária e acabou morrendo com 62 anos.

Notícias da TV – Ele te ajudou a criar os meninos depois da morte de Vivian e da sua mãe, verdade?
Sérgio Mamberti – Ele me ajudou bastante. Particularmente, a menina que eu criei, a Daniele. Ele foi muito pai dela. Eu viajava muito, os meninos já eram adolescentes, e ele foi o pai dela. Mas ele me ajudava também nessa administração da casa. Um parceiro de vida. Eu viajava muito e sempre podia contar com ele. Se eu tinha um jantar para fazer, ele gostava de cozinhar. Para as celebrações de Natal e Ano-Novo, ele também gostava de preparar os pratos. Ele era muito alegre. Depois, foi ficando um pouco triste, pois começou bebendo cerveja e vinho. Depois passou a beber vodca, e ela tem um processo destrutivo muito rápido.

Notícias da TV – Vocês chegaram a fazer a declaração de união estável?
Sérgio Mamberti – Não, nunca pensamos. Chegamos a conversar sobre isso. O Ed falou assim: ‘Não quero nada oficial’. E tinha uma irmã dele que reclamou de a gente não ter feito os papéis, mas o Ed nunca quis.

Notícias da TV – Achei interessante o jeito que você abordou o tema no livro. Você narra que, com a Vivian, você já falava sobre bissexualidade. Era tudo muito às claras. Em algum momento, na hora de escrever, você pensou em tomar cuidado ao falar disso?
Sérgio Mamberti – Eu sempre falo com muita delicadeza desses temas. Mas num livro como esse, que é tão pessoal, eu não posso deixar de falar disso. Foram experiências muito profundas. Tanto que ouvi por parte da imprensa, comentários dizendo: ‘Olha, o Mamberti é bissexual’. Não me sinto bem com esses rótulos para mim. Na verdade, são encontros. Eu prefiro chamar de encontros, não importa qual é o gênero.

Notícias da TV – Te preocupa esse assunto ainda ser tão discutido hoje em dia?
Sérgio Mamberti – Acho que ainda vai ser discutido durante um bom tempo. Eu estava vendo o Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul. É preciso muito mais coragem para ele abrir o jogo e colocar como é do que eu, que já tenho toda uma vida vivida. Acho que politicamente muita gente vai tentar usar isso contra ele. Eu não o conheço. Politicamente nós estamos em outro campo, mas fiquei muito contente de ele ter feito essa declaração, porque mostra que também é uma pessoa sincera e que não quis esconder isso.

Não adianta querer esconder, porque a qualquer hora isso pode vir à tona. E se você já não assumiu antes, fica numa situação muito complicada. Eu, particularmente, com relação aos meus filhos, falei logo de cara. Muitos amigos meus, na época, falaram: ‘Você não pode fazer isso’. Mas como é que eu ia esconder dos meus filhos que eu estava com um companheiro, sendo que ele morava comigo? Talvez, a gente tenha tido, em alguns momentos, que enfrentar determinados problemas, mas muito menores do que se eu estivesse tentando esconder”.