Ex-homem forte de Pazuello, Cascavel é investigado por suspeita de estuprar adolescente

Atualizado em 29 de julho de 2021 às 16:15
Airton Soligo, o Cascavel. Foto: Reprodução/O Poder

Na época que era secretário estadual de Saúde de Roraima, após passar pelo ministério da Saúde, Airton Antônio Soligo, conhecido como Cascavel, já estava respondendo a um inquérito policial instaurado em janeiro de 2019 por suspeita de estuprar uma adolescente que, à época, tinha 13 anos.

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Cascavel assumiu o cargo em 3 de maio de 2021 e saiu em 20 de julho, alegando que pegou covid pela segunda vez.

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Esse crime, de acordo com denúncia da vítima, ocorreu numa chácara localizada no Monte Cristo, zona rural de Boa Vista. O caso foi informado à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) pela mãe da garota. No depoimento, a adolescente relatou que estava na chácara onde moram o avô e o pai. Ao acordar, se dirigiu à piscina, a 200 metros da casa, para usar a internet pelo celular, quando foi abordada pelo suspeito.

Ao notar que a garota estava com os “lábios manchados”, Cascavel, ainda segundo relatos da vítima, quis saber o que havia acontecido e passou os dedos em seus lábios. Ela explicou que a mancha foi causada pela exposição ao sol após “chupar limão com sal”. Ainda conforme o depoimento da adolescente, após responder a Airton Cascavel, ele segurou o seu queixo e passou a língua em seus lábios. Assustada, ela se afastou e perguntou se ele estava “doido”.

Em seu depoimento, Airton Cascavel afirmou que, ao ver uma espuma branca na boca da garota, quis apenas confirmar se a história contada por ela procedia ou se a mancha teria sido causada pelo uso de entorpecente, pois, de acordo com ele, há registros de uso de drogas em alguns integrantes da família da suposta vítima. Cascavel se disse surpreso com a reação da adolescente e negou o abuso sexual. Ele afirmou, ainda, que há mais de 30 anos frequenta a chácara do avô da garota e estranhou o fato de a denúncia ter sido feita pela mãe da garota um ano depois do suposto crime.

Para ele, trata-se de uma acusação com interesses políticos, uma vez que o caso foi levado de “forma criminosa” à Assembleia Legislativa pelo deputado Renan Bekel, e teria também como objetivo atender “interesses obscuros” da mãe da adolescente.

Essas informações foram levantadas por uma reportagem de Érico Veríssimo no site O Poder, de Manaus.

Procurado pela reportagem, o governo de Roraima informou que “não se manifesta sobre qualquer ação ou possíveis comportamentos que não tenham relação ao exercício do cargo ora ocupado [por Airton Cascavel], muito menos de episódios anteriores à sua entrada no primeiro escalão”. Cascavel não respondeu aos pedidos de esclarecimentos.

Airton Soligo Cascavel era assessor especial do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Por conta dessa proximidade, o secretário deve ser convocado para dar explicações aos senadores sobre a atuação do governo federal durante a pandemia de coronavírus, segundo Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia.

O nome Cascavel é temido no Amazonas e em estados do Norte do Brasil, com acusações desde os anos 80 de grilagem, nepotismo e outras.

Cascavel tornou-se alvo da CPI da Covid neste mês de julho, graças a uma iniciativa do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Também é investigado pela Polícia Federal. Alguns afirmam que ele era o “número 2” de Pazuello na Saúde. Outros apontam como o “ministro de fato”.