Exclusivo: Band e SBT fizeram entrevistas ensaiadas para Bolsonaro explicar depoimento de porteiro no caso Marielle

Atualizado em 26 de julho de 2023 às 17:41
Jornalista Patrícia Vasconcellos ouve orientação durante entrevista com Jair Bolsonaro em Riad, na Arábia Saudita, em 30 de outubro de 2019 (crédito: DCM)

Entrevistas concedidas por Jair Bolsonaro à TV Bandeirantes e ao SBT no dia 30 de outubro de 2019, logo após a TV Globo publicar o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde morava o ex-presidente, tiveram perguntas e respostas ensaiadas e tentativas repetidas de se acertar a melhor forma de como o então presidente da República reagia aos questionamentos.

::VÍDEO – Exclusivo: “Você está entre amigos, votei no senhor”, disse repórter da Band ao entrevistar Bolsonaro sobre Marielle::

É o que mostram gravações em vídeo dos bastidores dessas entrevistas, concedidas por Bolsonaro durante viagem ao Oriente Médio, a que o DCM teve acesso. Veja, abaixo, as duas reportagens, como foram ao ar nas emissoras de TV naquele 30 de outubro:

Nos bastidores dessas entrevistas, os jornalistas Caiã Messina (Band) e Patrícia Vasconcellos (SBT) e suas equipes orientam o ex-presidente nas respostas, abrem seus microfones para ele critique e ataque a TV Globo e o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PMB), e até repetem as gravações de perguntas e respostas até que saiam perfeitamente ao gosto de Bolsonaro.

Na entrevista para o SBT, um assessor do presidente chega a interromper a gravação e a fala do então presidente, para que fossem refeitas pergunta e resposta, sem que Bolsonaro revelasse que já estava sabendo da reportagem na TV Globo antes que ela tivesse ido ao ar.

Já o jornalista da Band grava uma mesma pergunta e resposta por três vezes, até sair a contento do entrevistado. Assista abaixo:

Vídeo: Gustavo Aranda/DCM

 

Na época das entrevistas, a TV Globo havia acabado de tornar pública informações sobre as investigações do assassinato de Marielle Franco, ocorrido um ano antes. Reportagem do Jornal Nacional do dia 29 de outubro de 2019 mostrou um porteiro do condomínio Vivendas da Barra implicando Bolsonaro no caso. Como se sabe, o ex-policial Ronnie Lessa morava no mesmo condomínio do ex-presidente.

No dia do crime, Élcio Queiroz, comparsa de Lessa, esteve no condomínio. Segundo o porteiro falou à Polícia Civil do Rio na época, Queiroz, na hora de se identificar na portaria, disse que iria para a casa 58, de Bolsonaro. O funcionário declarou em depoimento que quem liberou a entrada teria sido o “seu Jair”.

O então presidente passou quase todo o tempo das entrevistas criticando a Globo e o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.

Já no Jornal da Band da última segunda-feira, dia 24, o âncora Eduardo Oinegue criticou duramente o ministro da Justiça, Flávio Dino, e as novas revelações do caso Marielle.

Segundo Oinegue, a delação de Élcio Queiroz apontou o dedo “não pra cima, na direção dos mandantes, mas pra baixo”, se referindo ao ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, um dos envolvidos no assassinato.