Exclusivo: “Você está em casa, votei no senhor”, disse repórter da Band ao entrevistar Bolsonaro sobre Marielle

Atualizado em 25 de julho de 2023 às 8:32
Jair Bolsonaro, o jornalista Caiã Messina e o ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid antes de gravação de entrevista em Jerusalém, em 2019, sobre a morte de Marielle Franco (crédito: DCM)

Caiã Messina, jornalista da redação de Brasília da TV Bandeirantes, poucos minutos antes de gravar uma entrevista exclusiva com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em 30 de outubro de 2019, avisou o ex-capitão que ali ele estava “entre amigos”, e que tanto ele quanto o cinegrafista haviam votado no ex-presidente nas eleições de 2018.

A entrevista que estava para ser gravada e que foi ao ar no Jornal da Band daquele dia foi concedida por Bolsonaro durante viagem a Jerusalém. O major Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro preso pela PF, aparece o tempo todo.

Na época, a TV Globo havia acabado de tornar pública informações sobre as investigações a respeito do assassinato de Marielle Franco, ocorrido um ano antes. Matéria do Jornal Nacional mostrou o porteiro do condomínio Vivendas da Barra implicando Bolsonaro no caso. Como se sabe, Ronnie Lessa morava no mesmo condomínio do ex-presidente.

No dia do crime, Élcio Queiroz, comparsa de Lessa, esteve no condomínio. Segundo o porteiro falou à Polícia Civil do Rio na época, Queiroz, na hora de se identificar na portaria, disse que iria para a casa 58, de Bolsonaro. O funcionário declarou em depoimento que quem liberou a entrada teria sido o “seu Jair”.

O então presidente passou quase todo o tempo de entrevista criticando a Globo e o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PMB).

Assista abaixo.

Em imagens que não foram ao ar – mas às quais o DCM teve acesso com exclusividade, gravadas enquanto Bolsonaro chegava ao local da entrevista e se preparava para a gravação -, é possível ver Cid carregando sua pasta e ajudando-o a colocar o microfone de lapela.

Também é possível ouvir e assistir ao jornalista na seguinte cena:

Caiã Messina (Jornal da Band): Antes de começar eu quero dizer para o senhor o seguinte: o senhor está entre amigos. Eu tenho vergonha, como jornalista (do vazamento de trechos da investigação na TV Globo), eu e o D* (apontando para o cinegrafista) votamos no senhor. O pessoal conhece meu trabalho.

Caiã Messina segue bajulando o ex-presidente, falando de sua suposta elegância, arrumando sua gravata, questionando se Bolsonaro havia conseguido “descansar um pouquinho” e, finalmente, dizendo:

Caiã Messina: Então, o senhor fica tranquilo. As perguntas que eu vou fazer é mais para que o senhor esclareça.

Jair Bolsonaro: Tá certo, eu tenho uma narrativa aqui. Posso Falar da rede Globo?

Caiã Messina: Pode falar o que o senhor quiser. A entrevista é do senhor.

Assista ao vídeo abaixo.

No Jornal da Band de segunda, dia 24, o âncora Eduardo Oinegue criticou duramente o ministro da Justiça, Flávio Dino, e as novas revelações do caso Marielle.

Segundo Oinegue, a delação de Élcio Queiroz apontou o dedo “não pra cima, na direção dos mandantes, mas pra baixo”, se referindo ao ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, um dos envolvidos no assassinato.

“O ministro não deveria falar de investigação alguma”, diz Oinegue. Para ele, Dino está sempre atrás de “holofotes” e “tirando uma casquinha”. “Será que ele vai cansar e vai parar ou a gente vai cansar dele e parar de prestar atenção no que ele diz?”, finaliza.