Exclusivo – Filho de coronel da ativa é acusado de assédio sexual em colégio militar em SP

Atualizado em 20 de maio de 2023 às 18:38
O agora tenente-coronel Costa e Silva, em imagem de sua campanha a governador de São Paulo, em 2018 (crédito: reprodução)

O filho de 14 anos do tenente-coronel Adriano da Costa e Silva, suplemente de deputado federal (Republicanos-SP) e ex-candidato a governador de São Paulo (2018), está sendo acusado de importunar sexualmente colegas mais novas do que ele na escola onde estuda, o Colégio Militar de São Paulo, localizado no bairro de Santana, zona Norte da capital.

A acusação vem junto com uma série de outras alegações de condutas reprováveis do aluno (que não terá seu nome publicado), que incluem perseguição a uma estudante que teria rejeitado um relacionamento afetivo com o filho do coronel, agressão física a outros alunos, automutilação e até tentativa de suicídio.

As afirmações estão sendo feitas por uma sargento da Polícia Militar que presta serviço como monitora escolar na instituição e por pais de outros alunos. O imbróglio já virou caso de polícia, com a lavratura de boletins de ocorrência e abertura de procedimento investigativo no Ministério Público.

O DCM teve acesso aos autos de investigação, mas neles não encontrou provas das alegadas condutas do adolescente. O tenente-coronel Costa e Silva e sua esposa negam qualquer mau comportamento do filho e se dizem chocados com o que classificam de perseguição dirigida ao estudante, que teria objetivos políticos como pano de fundo (leia mais ao fim desta reportagem).

Acusação 1: perseguição, importunação e suicídio

Em setembro do ano passado, a advogada Elaine Andrade, mãe de uma aluna, enviou um e-mail para o comandante do Corpo de Alunos do Colégio Militar de São Paulo, coronel Valentim, entre outros destinatários, acusando o filho dos Costa e Silva de uma série de condutas.

A mais grave seria uma perseguição de que sua filha estaria sendo vítima, por parte do estudante acusado. De acordo com Elaine, os dois adolescentes teriam namorado por alguns meses, até que sua filha tivesse encerrado o relacionamento, o que não teria sido aceito pelo filho do coronel. Este, então, passara a perseguir a ex-namorada, já teria a puxado pelo braço nos corredores do colégio e “sempre andava atrás dela, buscando contato físico”.

A história se espalhou como fogo em paiol no Colégio Militar de São Paulo. O próprio email de Elaine já foi enviado para uma série de endereços que englobavam, além do comandante do colégio, oficiais e suboficiais, sargentos e soldados das estruturas administrativas e pedagógicas da escola. Depois, ainda foi anexado em boletins de ocorrência policiais, em inquéritos públicos e na Corregedoria de Polícia.

Por fim, virou tema de conversa entre pais de alunos, muitos também militares, e depois serviu como argumento em novas acusações contra o filho dos Costa e Silva, essas já falando em perseguição “de teor sexual”, agressão física e assédio moral.

Mas de volta à primeira acusação, de Elaine, consta ainda que o adolescente estaria se automutilando, e enviando mensagens para a ex-namorada dizendo que iria se matar. Veja trecho abaixo, constante em boletim de ocorrência. 

Crédito: Polícia Civil de SP

Não consta em quaisquer dos autos de investigação a que o DCM teve acesso as mensagens em que o adolescente teria escrito ou dito o que se alega.

De qualquer forma, o colégio levou formalmente ao conhecimento dos pais do adolescente que ele estava sendo acusado de assédio sexual, e de que estaria falando sobre a possibilidade de se matar. Antes disso, a mãe do estudante, a advogada Daniela Carolina da Costa e Silva, já havia sido procurada por Elaine. As duas discutiram por mensagens, houve confronto de versões e acusações. Desde então até hoje, Daniela da Costa e Silva repudia as acusações contra o filho, como mostra mensagem enviada ao DCM:

“Estamos chocados com uma acusação tão séria e completamente inverídica. A acusação feita de modo leviano está sendo apurada em procedimento administrativo interno do Colégio Militar. Nossa família confia na instituição Exército Brasileiro e temos certeza que a verdade vira à tona.”

Acusação 2: agressão física e “perseguição de teor sexual”

No dia 11 de abril deste ano, Anderson Fagundes, pai de um outro aluno e membro da Associação de Pais e Mestres do Colégio Militar de São Paulo, lavrou boletim de ocorrência sobre uma agressão que seu filho teria sofrido no dia 5 daquele mês, por parte do mesmo estudante Costa e Silva. Teria sido um empurrão, que o teria deixado com hematomas.

Posteriormente, em sindicância interna, o próprio aluno que teria sido vítima da agressão negou os hematomas, disse mesmo que sequer havia sentido dor física com o empurrão: “Doeu na minha dignidade”, afirmou.

No mesmo boletim, o pai aproveitou para incluir no boletim que o tenente-coronel Costa e Silva é também político, tinha sido candidato a governador em 2018. Veja reprodução de trecho abaixo. Os dados dos menores foram excluídos pela reportagem.

Crédito: Polícia Civil de SP

Mas, antes de lavrar o boletim, no dia 11, Anderson Fagundes já levou o caso para todos aqueles que haviam recebido as acusações de Elaine, em setembro de 2022, e também incluiu endereços de email que eram recebidos por oficiais, suboficiais, sargentos e soldados do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), que funciona no mesmo prédio e dentro da mesma estutura administrativa do Colégio Militar de São Paulo.

É no CPOR onde está lotado o tenente-coronel Costa e Silva, o que significa dizer que dos soldados aos coronéis com quem o pai do adolescente trabalha, todos ficaram sabendo do episódio.

Então, nessa mensagem que chegou a todos esses mencionados, Anderson descreveu que já tinha ouvido de sua colega de APM, Elaine Andrade, que o filho dos Costa e Silva “tinha histórico de agressividade”, contou que ouvira que o filho dos Costa e Silva tinha perseguido a filha dela.

Tudo isso disse o pai Anderson Fagundes no próprio dia 5, por email. Depois, fez o B.O, no dia 11 de abril. No mesmo dia, escreveu outra mensagem, endereçada às mesmas dezenas de oficiais e militares do colégio e do CPOR, do soldado ao comandante, cobrando providências, exigindo a expulsão do aluno Costa e Silva.

Na nova acusação, Fagundes diz esperar que o fato de ser o pai do aluno acusado um oficial do Exército não seja motivo para qualquer tipo de impunidade no Colégio Militar. Recorda mais uma vez que o aluno Costa e Silva “tem histórico”, que ele teria ouvido de Elaine que sua filha fora perseguida, e que ela até obtivera uma “medida protetiva” contra o filho dos Costa e Silva, como se pode ver em trecho do email, abaixo:

Crédito: Colégio Militar de São Paulo

Nos autos a que o DCM teve acesso, não consta qualquer “medida protetiva” contra o estudante acusado. Procurados pela reportagem, os pais do menor afirmaram que não têm conhecimento de qualquer medida de caráter restritivo ou protetivo que tivesse que ser observada por seu filho.

É este o assunto do momento no Colégio Militar de São Paulo: o filho do político que teria assediado, agredido e ameaçado se matar.

Se o filho dos Costa e Silva cometeu ou não assédio, é de se esperar que as inúmeras instituições investigativas que já se debruçam sobre o caso venham a descobrir um dia. Um assediado já existe, seja pela forma como o caso foi administrado no Colégio Militar, seja por conta da própria natureza humana, e seja também ele culpado ou inocente ou muito pelo contrário, e este é o filho dos Costa e Silva.