O relatório de análise de conjuntura política que citava um golpe contra Lula em 2022 foi feito para o Itaú, e não para o Santander, como foi noticiado.
O DCM teve acesso ao email original, enviado pelo serviço Macro Sales Itaú (veja no pé deste artigo). É datado de 11 de agosto.
O material chegou a um analista do Santander, que compartilhou com clientes.
O autor é José Luciano de Mattos Dias, doutor em ciência política pelo Iuperj, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, e sócio diretor da CAC Consultoria Política, fundada em 1997.
Textos como esse são enviados a investidores diariamente. Essa nota é fora da curva por causa da futurologia estúpida fora de hora.
Além de expressões como “máquina de corrupção”, Dias fala que “o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria” que o governo Bolsonaro.
Em comunicado, o Santander afirmou que “o conteúdo do informe é de autoria de uma consultoria independente, cuja opinião não reflete a visão” do banco.
A distribuição foi pela plataforma de distribuição de notícias econômicas da Bloomberg, uma das principais fontes de informação do mercado financeiro no mundo, com 5 mil assinantes no Brasil.
Foi mais fácil atacar o Santander por causa do que ocorreu em julho de 2014, quando enviou a seus clientes ricos a informação de que a economia pioraria com a reeleição de Dilma Rousseff.
A analista Sinara Polycarpo Figueiredo, autora da patacoada, foi demitida, entrou na Justiça e ganhou uma indenização.
Leia também:
1 – PT pede investigação contra economista que pediu golpe contra Lula
2 – Santander diz que texto de economista sobre Lula “não corresponde à visão da instituição”
Leia o que José Luciano de Mattos Dias previu para o Itaú, na íntegra:
Um escritor alemão advertiu que a História, quando se repete, é como farsa e, ontem, o experimento do presidente Bolsonaro para repetir 1964 terminou como farsa, com seus blindados da Guerra do Vietnã e seus generais funcionários. Não há apoio social, nem apoio do establishment, nem radicalismo de esquerda para justificar uma aventura, que terminaria de forma melancólica com algumas prisões. Por fim, não há interesse do sistema político em um regime bolsonarista.
Dito isso, é preciso reconhecer um problema na eleição de 2022: a perspectiva de retorno ao poder da máquina de corrupção do governo Lula.
Basta comparar os esquemas de corrupção do Mensalão e do Petrolão com as aventuras cômicas de reverendos e militares da reserva tentando uma comissão na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro. Os recursos desviados pelas máquinas políticas dos governos passados ainda não apareceram. Ou seja, se o sistema político e judicial, se o establishment [sic] político brasileiro acham cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor.
Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo. Pode voltar a sê-lo.