
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) atingiu a marca de 20 mil “capelães” atuando dentro de batalhões e unidades das polícias militares e civis em todo o Brasil. Em São Paulo, a UFP, ou Universal nas Forças Policiais, está presente fisicamente no dia a dia de todas guarnições da Polícia Militar, com seus capelães travando contato diário com todos os policiais em ação no estado.
A informação acima foi transmitida, no último dia 10 de fevereiro, pelo pastor Roni Negreiros, ex-major da PM do Maranhão e atual comandante nacional da UFP, na Universal do bairro do Brás, região central da capital paulista, a 2,5 mil novos policiais militares de São Paulo que haviam tido seu batismo na corporação atuando na Operação Verão 2024/2025.
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Na ocasião, os milhares de policiais – de soldados a coronéis – ficaram 12 horas sob os cuidados e as palestras dos pastores, capelães e bispos da Universal.

Em suas páginas na internet, a própria Universal não se furta de informar do que se tratava tal evento, de como a igreja de Edir Macedo participa da rotina operacional da força pública paulista: “O encontro durou cerca de doze horas, das 7h às 19h, e serviu para realizar o processo de ‘Escolha de Vagas’, em que eles foram classificados em todas as unidades, tanto na capital como no interior”, informa a igreja.
Em dado momento, ao longo dessas 12 horas, o comandante Negreiros informou o que segue (os destaques foram inseridos pela reportagem do DCM):
Capelão é o profissional responsável por prestar assistência espiritual e social em hospitais, presídios, unidades militares e comunidades terapêuticas, públicas ou privadas, respeitando (em teoria) as crenças individuais. São sacerdotes designados a levar conforto espiritual a grupos de pessoas vivendo sob alguma condição específica.
Quer dizer: a Igreja Universal do Reino de Deus possui uma divisão de 20 mil capelães apenas inseridos em batalhões, guarnições, delegacias e campos de treinamento das forças policiais brasileiras.
A título de comparação, de acordo com balanço publicado pela CNBB (Confederação Nacional de Bispos do Brasil) em 2023, a Igreja Católica possui, em todo país, um total de 22,1 mil padres. Já o número de padres, bispos, cardeais e capelães somados não chega a 25 mil.
O estado de São Paulo é uma das unidades da federação em que a IURD alcança o maior grau de penetração em todo país. No último dia 12 de maio, por exemplo, a PM-SP celebrou os 70 anos da Polícia Feminina. Na capital, a celebração ocorreu dentro de um templo da Universal.

Em todo o estado, na data referida, a Universal promoveu encontros com seus bispos e capelães em batalhões, no Comando de Policiamento da Capital (COPOL) e na Escola Superior de Sargentos, entre outras unidades.
Também foram organizados pela igreja cerca de 40 cafés comemorativos, reunindo policiais da capital e do interior. Um dos destaques dessa programação foi o encontro realizado no Espaço Immensità, no bairro de Santana, zona norte da capital, que reuniu 600 mulheres policiais.
Já em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, no dia 17 de junho deste ano, a Câmara Municipal instituiu o “Dia da Capelania Universal nas Forças Policiais” (veja imagem da cerimônia no alto desta reportagem).
Agora, o braço policial da IURD tem um dia para chamar de seu no calendário oficial de São Bernardo do Campo. O projeto que deu origem à lei é de autoria do vereador Bispo João Batista, da Universal do Reino de Deus e do partido por ela controlado, o Republicanos, o mesmo do governador Tarcísio de Freitas.
Na cerimônia em homenagem à IURD realizada por ocasião da aprovação da lei, estiveram presentes 70 capelães da UFP. Os trabalhos foram abertos com uma apresentação do coral da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

O DCM vem ao longo dos últimos anos exibindo o crescente grau de penetração da Universal nas forças de segurança brasileiras (em especial, paulistas), que por lei deveriam ser laicas.
No dia 23 de julho do ano passado, por exemplo, levantamento feito por este site de notícias apontou que a Polícia Militar do Estado de São Paulo concedeu, pelo menos, 20 medalhas, diplomas ou honrarias à Igreja Universal do Reino de Deus do início de 2023 até junho de 2024. Uma delas foi a registrada em imagem abaixo, concedida pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, no dia 3 de fevereiro de 2023.

Já no dia 31 de julho de 2024, o DCM informou que a Igreja Universal participa de cursos de formação de policiais e do Exército em pelo menos 10 estados.
Um deles é São Paulo, onde aconteceu, em um templo da Igreja Universal na cidade de Diadema, no dia 18 de junho daquele ano, a Cerimônia de Formatura dos Policiais Militares do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência.
Na ocasião, os pastores deram palestras e entregaram livros de autoria do bispo Edir Macedo a mais de 1.000 alunos policiais.

Um ano antes disso, no dia 30 de julho de 2023, o DCM informou que um grupo formado por 700 igrejas evangélicas estava (e está até hoje) vendendo bíblias timbradas com o símbolo da PM-SP e ofertando seminários em quartéis para cabos, soldados e oficiais da PM-SP.
Por meio da Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, essas denominações promovem palestras semanais em, pelo menos, 60% dos quartéis da PM paulista, momentos em que aproveitam para comercializar, por meio de suas lojas físicas e virtual, bíblias personalizadas da PM-SP e dos Bombeiros, livros evangelizadores (inclusive alguns de autoria do bispo Edir Macedo, chefe da Universal) e também o periódico “Pão Diário”, com notícias evangélicas. Tudo por meio de convênios não oficiais de colaboração voluntária das igrejas ao Estado de São Paulo.

O emprego do símbolo da PM-SP em um produto que é comercializado por uma entidade privada é um procedimento que contraria o Código Penal, que, em seu Artigo 296, determina:
I – selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
II – selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:
§ 1º – Incorre nas mesmas penas:
[…]
III – quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
O advogado criminalista André Lozano Andrade, membro da Frente Ampla Democrática pelos Direitos Humanos (FADDH), explica: “Os símbolos das corporações públicas não podem ser utilizados para fins particulares, especialmente em produtos postos à venda por entidades privadas. O Código Penal dispõe que tal prática constitui crime. Quem produz e comercializa esta bíblia está incorrendo em crime”.
Dentro da Polícia. Já faz mais de dois anos. Ninguém poderá dizer que foi por falta de aviso.