Exército também usa software de espionagem da Abin, diz investigação

Atualizado em 21 de outubro de 2023 às 13:26
Fachada do Centro de Inteligência do Exército (CIE). Foto: reprodução

Recentes revelações da Polícia Federal apontam que o Centro de Inteligência do Exército (CIE) recorreu ao software de localização FirstMile, desenvolvido pela empresa israelense Cognite. Este mesmo sistema foi supostamente utilizado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão de Jair Bolsonaro para monitorar sindicalistas, ativistas sociais, jornalistas, políticos e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A investigação conduzida pela corregedora da Abin, Lidiane Souza Santos, desvendou o uso indevido do equipamento e a implicação de dois agentes da Abin, Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycki, detidos na Operação Última Milha. A apuração revelou que o sistema de geolocalização de celulares foi aplicado de forma ilegal em mais de 31 mil alvos, dos quais apenas 1,8 mil foram identificados pela PF.

As suspeitas surgiram quando a Abin começou a investigar a suposta comercialização do software para clientes privados. A ferramenta, capaz de rastrear até 10 mil celulares anualmente, monitora o histórico de deslocamentos dos dispositivos e emite alertas em tempo real sobre suas movimentações, permitindo a vigilância de suspeitos e o rastreamento de suas interações.

Fachada da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Em reação à abertura do processo administrativo disciplinar (PAD), os agentes detidos teriam tentado desacreditar a corregedora, inclusive divulgando informações funcionais sobre ela. Após a conclusão do PAD no início do ano, as condutas potencialmente ilegais foram repassadas à PF, que deu continuidade à investigação.

Fontes do Exército enfatizam que o problema reside no uso inapropriado do software e não na ferramenta em si, que é considerada essencial para atividades de inteligência quando autorizada judicialmente. Entre os usos legítimos destacados estão o acompanhamento de agentes estrangeiros de inteligência, o combate ao crime organizado e a manutenção da segurança na faixa de fronteira, onde o Exército atua como força policial.

O Centro de Comunicação Social do Exército preferiu não comentar detalhes sobre o contrato com a Cognite em 2018, alegando que as informações relacionadas à inteligência são cobertas pelo sigilo estabelecido pela Lei de Acesso à Informação (LAI).

Em meio às revelações trazidas pela operação da PF, um coronel do Exército citou uma frase do general Walter Nicolai, ex-diretor da inteligência militar alemã: “A inteligência é o apanágio dos nobres. Confiada aos outros, desmorona.” A situação continua evoluindo à medida que mais informações são reveladas. Fique atento para atualizações adicionais.

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