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Falta chegar ao elo dos tios do dinheiro na corrente que sustentava Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Manifestação em apoio a Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

Logo no começo, nas primeiras tentativas de reação às turbas que afrontavam o Supremo e ameaçavam com o que seria um golpe, prenderam Sara Winter.

Pegaram depois Daniel Silveira. Encarceraram Anderson Torres e os manés no início do ano e agora levaram Mauro Cid para a cadeia.

Um grupo heterogêneo. Uma agitadora que sumiu, um deputado federal muito próximo da família mas sem expressão, um delegado e ex-ministro e por último um coronel do Exército.

Tivemos ou temos na cadeia, entre civis e agora também um fardado, uma turma variada e simbolicamente representativa do bolsonarismo.

Dos malucos aos operadores, mesmo que o militar preso não fosse um golpista clássico, mas um ajudador, e que ainda faltem o líder, seus filhos e todos os cúmplices civis e fardados do entorno, tem um conjunto.

Mas, arredando-se por enquanto o chefe, os filhos e os líderes militares, que em algum momento terão de ser enquadrados, falta o elo do poder econômico e financeiro do ativismo bolsonarista.

Não há ainda nem perto da cadeia nenhum dos endinheirados e poderosos decisivos para a existência do gabinete do ódio, das milícias digitais espalhadas pelo país e da militância só aparentemente paroquial nos Estados.

Essa gente não foi alcançada ainda por nada de consequente e efetivo. Enfrentam apenas investigações deflagradas em 2019.

O elo do dinheiro ainda está apenas cercado. Há gente endinheirada contida por decisões de Moraes. Um grupo de milionários não tem acesso às redes sociais.

Todos devem estar assustados, mas ainda apostando que poderão escapar, como muitos escaparam antes.

Sabe-se também que há entre os grupos ainda impunes um esforço no sentido de mandar recados ao governo. São mensagens na linha do precisamos conversar.

Mas Lula sabe e Alexandre de Moraes sabe mais ainda, todos nós sabemos que não tem conversa.

Sabemos que o coronel Mauro Cid é um prestativo que, mesmo solto, estará fora do catálogo. Que Anderson Torres é um operador alquebrado e sem recuperação.

Que Daniel Silveira foi esquecido pela família, sem mandato e sem influência na facção. Que os militares serão contidos politicamente. E que a manezada é o que é, apenas manezada.

Mas a turma do dinheiro, não. Os homens com poder econômico, que bajularam Bolsonaro, desfrutaram de privilégios, trabalharam pelo golpe e imaginaram um país sob o domínio de militares e milicianos por décadas, essa turma continua agindo.

Os outros, das outras turmas já alcançadas, estão mortos ou a caminho da extrema unção. Mas os tios ricos estão ativos e exercendo seu poder com a imposição do dinheiro.

Esse pessoal que mandou cercar e afugentar Luís Roberto Barroso de Porto Belo, alertou que Luiz Fux não deveria aparecer em Bento Gonçalves, que despejou dinheiro nas campanhas, assediou funcionários das suas empresas e fez comícios golpistas em churrascarias de beira de estrada, essa gente continua agindo.

Os que atacaram Alexandre de Moraes, acusando-o de conluio com Lula, que afrontaram as urnas, a eleição e a democracia, todos continuam bem de vida e bem de dinheiro e na militância da extrema direita.

Os grandes empresários que patrocinaram o fascismo contam com a desculpa de que são inatingíveis, porque cidades inteiras dependem de seus negócios, para que assim continuem patrocinando o extremismo.

A sobrevivência financeira do bolsonarismo das milícias digitais depende deles e das estruturas que serão montadas agora fora do poder.

E a sobrevivência da democracia depende do que o Ministério Público e o Judiciário fizerem com eles.

O próprio sistema de Justiça sabe que será mais forte ou mais fraco na mesma medida da capacidade de enfrentar o fascismo dos tios endinheirados ainda impunes.

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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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