FHC previu que Lula seria chamado a depor na Lava Jato — e um delegado ouviu. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de setembro de 2015 às 18:22
Lula
Lula

 

Em agosto, Fernando Henrique Cardoso falou o seguinte à revista alemã de economia Capital: “Os escândalos começaram no governo dele. Tudo começou bem antes, em 2004, com o Lula, com o escândalo do mensalão.”

Prosseguiu: “Para colocá-lo atrás das grades, é necessário haver algo muito concreto. Talvez ele tenha que depor como testemunha. Isso já seria suficientemente desmoralizante”.

Não se sabe se o delegado da Polícia Federal Josélio Azevedo de Sousa leu a entrevista, mas o fato é que ele encaminhou nesta semana um pedido ao STF para que Lula seja ouvido na Lava Jato.

Lê-se no ofício que, “atenta ao aspecto político dos acontecimentos, a presente investigação não pode se furtar de trazer à luz da apuração dos fatos a pessoa do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva que, na condição de mandatário máximo do país, pode ter sido beneficiado pelo esquema em curso na Petrobrás, obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal.”

Como assim, “pode ter se beneficiado”? Se não passa de uma suspeita, de uma ilação, por que convocar um cidadão neste momento?

Sousa escreve que baseou-se nas declarações do doleiro Alberto Youssef e nas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele mesmo admite que “os colaboradores, porém, não dispõem de elementos concretos para apontar a participação direta do então presidente Lula nos fatos”.

Josélio de Sousa atropelou o direito em nome do barulho. Evidenciou, paradoxalmente, que tem um alvo claro, objetivo pré-definido e métodos não necessariamente democráticos. Acatado o pedido, a desmoralização de Lula será a menor entre todos os envolvidos nesse episódio.

 

O delegado Josélio
O delegado Josélio