Enfim uma boa notícia: Gusttavo Lima vai parar de torturar os fãs com as lives de sertanejo que vinha fazendo bêbado pra continuar faturando na pandemia. 
Depois de fazer o João Canabrava – só que mais cafona – bebendo ao vivo como um adolescente que acabou de descobrir a vodka ao ficar sozinho em casa, fazer piada de péssimo gosto sobre menstruação e anunciar uma doação para as famílias de um lixão que não existe, ele enfim entendeu que é chegada a famigerada hora de parar. 
Na última live – que deveria ser um arranjo caseiro e respeitando o distanciamento, mas foi uma produção completa – o cantor bebum anunciou a doação de $500 mil para as famílias do lixão de Aparecida de Goiânia, um lugar que ele conhece tanto a ponto de não saber que já não existe. 
Gusttavo Lima é um soldado de alta patente da indústria cultural: fatura milhões produzindo música de baixa qualidade (mas em uma roupagem que seduz o ouvinte menos qualificado – pura cafonice pra quem tem alguma ideia do que é arte), é festejado por direitistas igualmente cafonas e, pra continuar lendo a cartilha, finge que faz caridade. 
Quem se importa se o lixão existe ou não? Desce mais 10k de likes no Insta e mais uma dose de uísque porque ostentar álcool é muito hype. 
Agora imagine se, em vez de Gusttavo Lima ostentando cerveja e uísque, fosse Marcelo D2 ostentando um baseado?
No mínimo mandariam o BOPE em uma prisão em flagrante ao vivo. A hipocrisia do Brasil que declara guerra às drogas mas festeja um bolsominion alcoólatra se embebedando ao vivo beira o patético.
É difícil, aliás, saber o mais patético dessa história: se é a naturalidade com que os conservadores recebem a bebedeira, como se álcool não fosse uma droga, se é o tom de eufemismo irritante que a Record adota pra noticiar o fato, ou se é o fato de o cantor, provavelmente envergonhado pela doação ao lixão fake, agora chamar sua própria decisão de parar de fazer lives de “censura”.
Me poupe, queridão. Censura é colocarem capangas do governo na ANCINE. Censura é o que se faz aos professores no Brasil. Isso aí é, no máximo, alguma noção do ridículo (ao que parece, ainda te resta alguma). Então, vamos chamar as coisas pelo nome: você não está parando de fazer lives porque “não quer ser censurado.”
Ninguém censura rico no Brasil, muito menos rico bolsominion. Você está parando porque percebeu a vergonha que passou e porque certamente já tem dinheiro suficiente para as próximas 5 pandemias.
E se há algum proveito – certamente há – para tirarmos dessa fase sombria de nossa história, é este: muitas das nossas mazelas enquanto sociedade serão reveladas, a fragilidade do sistema, a hipocrisia das pessoas, as prioridades equivocadas, os valores esvaziados.

A “falsa guerra às drogas” é apenas mais uma das verdades difíceis de engolir que a pandemia tem desnudado, e agora se revela com uma nitidez indiscutível e da forma mais ridícula possível: com um sertanejo alcoólatra se passando no YouTube.