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Ficou claro que o Senado tem um nível de pobreza intelectual e moral igual ao da Câmara. Por Paulo Nogueira

Dilma teve que explicar a mesma coisa repetidas vezes

Ficou patente, na sessão de ontem do Senado, que os senadores lembram pateticamente em nível intelectual os deputadores federais.

Não todos, é certo. Mas muitos.

A diferença entre as intervenções de Dilma e as de seus carrascos disfarçados de juízes foi extraordinária em seu interrogatório.

Senador Petecão. Perrela. Magno Malta. Ferraço. Senadora Ana Amélia, fantasiada de bandeira.

Os engomadinhos. Aécio, o Candidato Derrotado. Cassio Cunha Lima, ficja suja cassado quando governador da Paraíba e protagonista de um episódio em que cupinchas seus foram obrigados a atirar dinheiro de um prédio. Era dinheiro destinado a comprar votos de eleitores humildes, e ia haver um flagrante.

O caso do Dinheiro Voador: foi assim que a história se tornou conhecida na Paraíba e no Brasil.

Sem nenhuma surpresa, quando Cunha Lima emergiu como um Catão, um cruzado fajutíssimo do combate à corrupção, a imprensa jamais trouxe à cena o real perfil deste oligarca da Paraíba.

O que se viu, nesta terça, é que Gleisi Hoffmann estava absolutamente certa: o Senado não tem condição moral nenhuma para julgar Dilma.

Moral e intelectual.

Pacientemente, Dilma foi obrigada a repetir sua tese central.

Não adianta você ver as formalidades de um tribunal quando as cartas estão marcadas. É simulacro de julgamento. Você vai estar antecipadamente condenado.

É golpe. É golpe parlamentar, uma praga que faz parte da América Latina pós Guerra Fria.

Não é mais golpe militar. Não são mais tanques.

São parlamentares — os conservadores de sempre — que arrumam pretextos vis para derrubar líderes populares eleitos pela força dos votos.

A defesa de Dilma demonstrou com toda a clareza que não houve “crime de responsabilidade” nenhum nas questões fiscais que lhe foram imputadas.

É um golpe “vagabundíssimo”, para usar a expressão do jornalista Mário Magalhães.

Mesmo assim, mesmo tudo categoricamente explicado, os senadores golpistas voltavam ao ponto de partida ao se dirigirem a Dilma.

Como golpe se ela estava ali se defendendo? Como golpe se o presidente do STF estava à mesa dirigindo os trabalhos? (O STF, apenas para resgistro, apoiou entusiasmadamente o golpe de 1964.)

Ora, ora, ora.

Nenhuma formalidade faz sentido quando a sentença está pronta muito antes dos trabalhos da defesa.

Você pode provar que não cometeu crime nenhum, como foi o caso de Dilma. Mas será considerado culpado.

É golpe. Golpe parlamentar, como Dilma repetiu firmemente dezenas de vezes ontem, num de seus maiores acertos.

Os golpistas se comportavam como se estivessem habilitados a dar um golpe sem que o golpe fossem classificado como golpe.

Dilma desmontou a farsa.

Estamos na companhia de dois países latino-americanos na promoção de golpes parlamentares na história recente.

Honduras e Paraguai.

Eis mais uma obra que devemos à plutocracia basileira.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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