Filé mignon contradiz Bolsonaro, cai 17% e fica mais acessível sob Lula. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 13 de setembro de 2023 às 12:27
Prato com filé mignon. (Foto: Reprodução)

Leonardo Sakamoto

Diante da promessa de campanha de Lula de que, em seu governo, as famílias voltariam a comer picanha e tomar cerveja, o então candidato Jair Bolsonaro disse que a promessa era “conversa mole”. E cravou em agosto: “não tem filé mignon pra todo mundo!”

Como o mundo é redondo e, portanto, dá voltas, o filé mignon foi o corte que apresentou a maior queda de preço desde o início do governo do petista, com 16,95%. Mais do que a redução da alcatra (-13,46%) e do contrafilé (-11,77%). Os dados são do IPCA, a inflação oficial medida pelo IBGE, de agosto.

A picanha, por sua vez, acumula uma queda de 9,14% no ano, enquanto a cerveja aponta alta de 3,66%. Como o peso da carne é maior que o da bebida, no saldo, o churrasco de final de semana ficou bem mais barato.

A queda no preços da ração, o aumento de oferta de determinados cortes no mercado interno, a relação com a exportação, enfim, há uma série de elementos influenciado na queda – que, ao que tudo indica, deve continuar.

Se a picanha tem lugar cativo nos discursos de Lula, o filé mignon conta com seu espaço nos de Bolsonaro.

Lula em coletiva no G20 em Nova Délhi, índia

Em 18 de julho de 2019, em sua live semanal, o então presidente mostrou que, em caso de pouco filé mignon, quem primeiro levaria sua parte são seus filhos.

Ao defender a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro ao cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, disse: “Lógico, que é filho meu, pretendo beneficiar filho meu, sim. Pretendo, se puder, dar filé mignon”.

No final, a pressão da opinião pública foi tão grande que os planos foram interrompidos e o deputado não levou o filé pago com dinheiro do contribuinte. Mas foi o suficiente para perceber, já nos primeiros meses de seu mandato, que o presidente teria uma visão pitoresca sobre a diferença do público e do privado.

Tanto que encerrou seu governo com o escândalo das joias doadas ao patrimônio do Brasil por governos árabes, contrabandeadas, desviadas, surrupiadas e vendidas em nome de sua glória.

A declaração de que não haveria carne com valor acessível foi péssima para a sua campanha à reeleição e foi explorada pelos adversários. Reforçou Jair com a imagem de candidato dos ricos, apesar de ele tentar desesperadoramente trazer os mais pobres para perto. Não conseguiu e Lula foi eleito.

As classes D e E não esperavam comer filé mignon e picanha todos os dias – até porque, mesmo com a queda, eles não são produtos para o dia a dia. Mas com a inflação alta e a queda da renda, a compra eventual desses produtos deixou de acontecer. Na verdade, a compra da carne bovina deixou de acontecer.

Quem comia carne, passou para o frango; quem comia frango, migrou para o ovo. E quem comia ovo e não tinha mais como comprar? Bem, tivemos cenas que ficaram tristemente célebres, como as de famílias revirando caçambas de caminhão de lixo e disputando doação de ossos de boi.

Mesmo com o Auxílio Brasil, em menos de dois anos, entre 2020 e 2022, o número de famintos subiu de 19 milhões para 33,1 milhões, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.

No mesmo dia 26 de agosto da declaração sobre o filé, Jair afirmou que a fome era uma fake news no Brasil, que ela não existia “pra valer”. Ainda hoje, os seguidores mais radicais do ex-presidente dizem, nas redes sociais, que o IBGE mente e que o preço da carne subiu. Sobra, dessa forma, mais carne para quem acredita em números.

Originalmente publicado na coluna de Leonardo Sakamoto no Uol

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