Destaques

Filé mignon contradiz Bolsonaro, cai 17% e fica mais acessível sob Lula. Por Leonardo Sakamoto

Prato com filé mignon. (Foto: Reprodução)

Leonardo Sakamoto

Diante da promessa de campanha de Lula de que, em seu governo, as famílias voltariam a comer picanha e tomar cerveja, o então candidato Jair Bolsonaro disse que a promessa era “conversa mole”. E cravou em agosto: “não tem filé mignon pra todo mundo!”

Como o mundo é redondo e, portanto, dá voltas, o filé mignon foi o corte que apresentou a maior queda de preço desde o início do governo do petista, com 16,95%. Mais do que a redução da alcatra (-13,46%) e do contrafilé (-11,77%). Os dados são do IPCA, a inflação oficial medida pelo IBGE, de agosto.

A picanha, por sua vez, acumula uma queda de 9,14% no ano, enquanto a cerveja aponta alta de 3,66%. Como o peso da carne é maior que o da bebida, no saldo, o churrasco de final de semana ficou bem mais barato.

A queda no preços da ração, o aumento de oferta de determinados cortes no mercado interno, a relação com a exportação, enfim, há uma série de elementos influenciado na queda – que, ao que tudo indica, deve continuar.

Se a picanha tem lugar cativo nos discursos de Lula, o filé mignon conta com seu espaço nos de Bolsonaro.

Lula em coletiva no G20 em Nova Délhi, índia

Em 18 de julho de 2019, em sua live semanal, o então presidente mostrou que, em caso de pouco filé mignon, quem primeiro levaria sua parte são seus filhos.

Ao defender a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro ao cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, disse: “Lógico, que é filho meu, pretendo beneficiar filho meu, sim. Pretendo, se puder, dar filé mignon”.

No final, a pressão da opinião pública foi tão grande que os planos foram interrompidos e o deputado não levou o filé pago com dinheiro do contribuinte. Mas foi o suficiente para perceber, já nos primeiros meses de seu mandato, que o presidente teria uma visão pitoresca sobre a diferença do público e do privado.

Tanto que encerrou seu governo com o escândalo das joias doadas ao patrimônio do Brasil por governos árabes, contrabandeadas, desviadas, surrupiadas e vendidas em nome de sua glória.

A declaração de que não haveria carne com valor acessível foi péssima para a sua campanha à reeleição e foi explorada pelos adversários. Reforçou Jair com a imagem de candidato dos ricos, apesar de ele tentar desesperadoramente trazer os mais pobres para perto. Não conseguiu e Lula foi eleito.

As classes D e E não esperavam comer filé mignon e picanha todos os dias – até porque, mesmo com a queda, eles não são produtos para o dia a dia. Mas com a inflação alta e a queda da renda, a compra eventual desses produtos deixou de acontecer. Na verdade, a compra da carne bovina deixou de acontecer.

Quem comia carne, passou para o frango; quem comia frango, migrou para o ovo. E quem comia ovo e não tinha mais como comprar? Bem, tivemos cenas que ficaram tristemente célebres, como as de famílias revirando caçambas de caminhão de lixo e disputando doação de ossos de boi.

Mesmo com o Auxílio Brasil, em menos de dois anos, entre 2020 e 2022, o número de famintos subiu de 19 milhões para 33,1 milhões, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.

No mesmo dia 26 de agosto da declaração sobre o filé, Jair afirmou que a fome era uma fake news no Brasil, que ela não existia “pra valer”. Ainda hoje, os seguidores mais radicais do ex-presidente dizem, nas redes sociais, que o IBGE mente e que o preço da carne subiu. Sobra, dessa forma, mais carne para quem acredita em números.

Originalmente publicado na coluna de Leonardo Sakamoto no Uol

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

Tragédia em Porto Alegre: prefeito culpa as vítimas por “morar onde moram”

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), culpou na noite deste sábado (11) o…

3 horas ago

A tragédia que mata pode ajudar salvar a extrema direita. Por Moisés Mendes

Golpistas civis e militares, muambeiros de joias, vampiros de vacinas e cloroquina, milicianos analógicos e…

3 horas ago

RS: previsão do tempo indica chuvas fortes no estado neste domingo (12)

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu um boletim no…

4 horas ago

Jorginho Mello usou papéis “cenográficos” em denúncia fake sobre o RS, diz jornalista

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), publicou um vídeo na última quarta-feira (8)…

4 horas ago

RS: 85% das cidades em calamidade ainda não pediram dinheiro do Governo Federal

Uma fonte de recursos disponível sem burocracia no Governo Federal ainda não foi usada por…

6 horas ago

Força Nacional reforça segurança de abrigos no RS após relatos de abusos

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciou neste sábado (11) que a…

6 horas ago