Se décadas atrás o objetivo de artistas musicais era chegar às listas de mais escutados nas rádios, hoje em dia o foco migrou para os streamings, onde os rankings, em tese, dependem somente do público final. No entanto, gravadoras e produtores estão encontrando formas driblarem o gosto orgânico dos usuários de plataformas como Spotify.
Na última semana, quando as parcerias de Ivete Sangalo e Ludmilla, com “Macetando”, e de Parangolé e Léo Santana, com “Perna Bamba”, dominaram o carnaval, a dupla sertaneja Clayton & Romário teve uma ascensão meteórica com a música “Morena”, subindo 58 posições no ranking de mais escutadas.
No X, antigo Twitter, usuários estão denunciando aplicativos que monetizam os ouvintes que impulsionam os players das músicas de determinadas gravadoras. Outro exemplo é a “popularização” da dupla Gustavo Moura & Rafael, em que o primeiro é namorado de Silvia Abravanel, filha de Silvio Santos.
🚨Adivinhem quem está por trás disso?
– Silvia Abravanel filha do Silvio Santos, nesse app eles te pagam para você ouvir a musica dos Artistas da Gravadora deles. Você pode ganhar até 400 reais por mês/dia só escutando as músicas!
Entenda como funciona 👇🏻 https://t.co/lSNE3F9qAb pic.twitter.com/Q6R5R7u5ss— LUIZINHO O MAIOR (@lulunitt5r) February 15, 2024
A dupla, agenciada pela produtora Astro Music, de Goiás, é associada à plataforma Astro Play, “um aplicativo baseado no conceito Listen to Earn (ouça para ganhar), que promove recompensas aos usuários”, como diz sua própria descrição em lojas de apps.
Segundo a denúncia feita nas redes sociais, os usuários do Astro Play podem ganhar até R$ 400 mensais por impulsionarem as músicas de artistas da Astro Music no Spotify. Entre as imagens de divulgação do aplicativo, aparecem o nome da dupla de Gustavo, sendo que Silvia é contratada como embaixadora da plataforma.
Essa prática seria mais um modo do agronegócio popularizar o sertanejo, ou agronejo, que tem sido apontado como ritmo propagandista das indústrias rurais, o que seria uma ação de “soft power”, semelhante ao que os Estados Unidos fazem com a indústria de cinema, levando a imagem que querem passar de si por meio da indústria do entretenimento.
Em 2021, a proutora Kamilla Fialho, que já trabalhou com nomes do pop e do funk como Anitta, Lexa, Sapão e Naldo, entre outros, revelou como o sertanejo tomou conta das rádios no Brasil, inclusive nas grandes metrópoles, assumindo lugares das músicas consideradas urbanas.
“Tem muito dinheiro. Eu pago para tocar uma música na rádio, eles compram a rádio”, ironizou sobre sertanjos em participação ao podcast Corredor 5, no Youtube.
Nesse vídeo a empresária Kamilla Fialho (ex empresária de Anitta,lexa,me Rebecca) conta sobre um dos mecanismos usados para o sertanejo se tornar o ritmo mais popular no Brasil. No vídeo novo do canal eu expliquei quem financia o sertanejo e o porque. https://t.co/vOB1ihdHdv pic.twitter.com/kTU4W7gwlo
— Laura Sabino (@mylaura_m) May 7, 2022