Foi necessário que Moro viajasse 10 mil quilômetros para ouvir a pergunta óbvia sobre seu tricô indecoroso com Aécio Neves, recordista em delações na Lava Jato, numa festa da Istoé repleta de corruptos.
Numa palestra em Heidelberg, na Alemanha, um repórter da Deustche Welle Brasil lhe questionou sobre a foto. Moro se saiu com uma explicação meia boca.
“Foi um evento público, e o senador não está sob investigação da Justiça Federal de Curitiba. Foi uma foto infeliz, mas não há nenhum caso envolvendo ele”, disse.
Uma “foto infeliz” provavelmente significa, num universo paralelo, que ela não deveria ter sido tirada.
Infeliz não é o fato de ele ter ido a uma premiação com tantos políticos acusados de corrupção, muitos citados na operação comandada por ele.
Infeliz não é esse prêmio ser dado por uma revista absolutamente desacreditada, cujo dono pode perder uma mansão num processo trabalhista.
Infeliz não é a conversa ao pé do ouvido com Aécio.
Infeliz é a fotografia.
De acordo com a DW, alguém na plateia quis saber sobre a divulgação dos grampos de Dilma e Lula.
“É estranho que numa democracia as pessoas reclamem de uma revelação como essa. Desde o início das investigações decidimos que não iríamos esconder nenhuma informação do público”, declarou ao ressaltar que a atitude “não foi uma exceção à regra”.
É uma visão sui generis de democracia e do estado de direito. “O resumo da ópera é o seguinte: você não combate o crime cometendo crime”, afirmou o insuspeito Gilmar Mendes sobre os vazamentos.
Moro foi aplaudido e vaiado. Viu cartazes onde se lia “Moro na cadeia” e “Parcialidade fere a democracia”.
Como no caso do impeachment, quando a imprensa estrangeira consagrou a chamada “narrativa do golpe” ao ser apenas mais honesta que a brasileira — e despida da cumplicidade com a canalha que tomou o poder —, Moro foi tratado na Alemanha como deveria ser.
É duro descobrir que você era deus só para gente como o Fagner. E isso é só o começo. Moro se autodesmoralizou e vai cair como Temer.
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