Publicado no Facebook de Luis Felipe Miguel, professor da UnB
Ontem, graças ao gentil convite de Cayo Honorato e Marcelo Mari, participei de um debate no Departamento de Artes Visuais da UnB sobre o avanço da censura no Brasil. Um momento de produtiva e interessante troca de ideias.
Em certo momento, uma pessoa perguntou sobre o ativismo de internet. Respondi o que costumo responder. Cliques na internet não vão mudar o mundo (mas Lênin também não esperava que o Iskra fizesse a revolução, era um instrumento para a organização dos revolucionários). A internet não resolve o problema da concentração da mídia, que continua dominando o debate público. As bolhas enviesam nossa percepção da realidade. A preferência por textos muito curtos condena o debate a um nível superficial e favorece a reprodução do senso comum.
Ainda assim, pode ser um espaço de articulação horizontal, de compartilhamento de informações, de elaboração pública de argumentos – e uma ferramenta de organização. Cabe a nós saber aproveitar essas potencialidades.
Voltando para esta minha página, fico com a impressão de que fui muito otimista. Eu me envolvi tenuamente no debate sobre os limites éticos da ação política, suscitado pela divulgação de informações médicas do infame Alexandre Frota e pela adesão a um discurso falocêntrico para rir de sua impotência sexual. Vi pessoas que reputo inteligentes e até intelectualmente sofisticadas defendendo um maquiavelismo de botequim, que nada tem a ver com o próprio Maquiavel, na linha de “os fins justificam os meios”.
Como o fim – zoar de Frota – não leva a nada além da satisfação de uma vontade infantil por vingança, da qual nenhum de nós está livre, mas que creio que devemos controlar, o pobre bufão fascistoide foi alçado à condição de um dos cérebros do golpe. A reprodução do sexismo aparece como um não problema, já que, como “nós” não somos sexistas, poderíamos usar o sexismo à vontade sem nos contaminar. Imagino que ofensas racistas ou homofóbicas também estarão liberadas, desde que pronunciadas pelos bons contra os maus. A manutenção de limites éticos para a ação política foi lida como “perdoar”, “amar”, “passar pano”, “servir café com biscoito”. As consequências possíveis da liberação do vale-tudo na política e do enfraquecimento da nossa capacidade de exigir limites éticos não foram jamais levadas em conta.
Quem era contra a divulgação da ficha médica de Frota estava defendendo William Waack (?). Uma moça, a quem acabei por bloquear, disse que só homens “defendiam Frota”, por “broderagem”, assim como todos eram contra o direito ao aborto e a favor do estupro. Diante da evidência de que muitas mulheres também se posicionaram contra o uso do discurso machista, classificou-as como “biscoiteiras”. E assim por diante.
Eu gosto de debate político. Gosto, na verdade, do debate intenso, franco, sem meias-palavras, o que, aliás, às vezes me causa problemas. Mas não suporto a adesão obtusa a slogans simplificadores, a preguiça para o engajamento efetivo na discussão.
Tenho repensado minha presença nas redes. Não sei o quanto compensa o investimento de tempo e energia que faço aqui. Sim, nos dois anos e meio em que mexo com essa conta de Facebook conheci pessoas bacanas, com quem tive e tenho trocas produtivas, que acrescentam bastante à minha própria reflexão.
Mas, embora eu não costume ter inclinações depressivas, está difícil aguentar o espetáculo diário de uma esquerda masturbatória, obsessivamente dedicada à contemplação do próprio umbigo e a práticas catárticas, cujo único impacto no mundo é aliviar a própria sensação de impotência. E essa crítica, que muitas vezes é dirigida a determinados setores da chamada “esquerda identitária”, vale igualmente bem para muitos setores da velha “esquerda classista”, tão enamorados do próprio revolucionarismo.
Será que isso aqui não é só uma grande armadilha? Como nos libertamos da Matrix zuckerbergiana?
Sei que, em breve, a seção de comentários estará cheia de observações de que Frota não merece perdão, que é olho por olho, que fascista tem que provar do próprio veneno. E assim passa a caravana. Por enquanto, tomei a atitude, antipática, de restringir os comentários aos “amigos”. É chato, porque há várias pessoas que agregam ao debate e que não estão registradas como “amigos”. Mas, para a proteção de meu próprio bem estar, a decisão foi tomada.
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