‘Fui até ele, quase nua, e me esfreguei no seu corpo’: um novo capítulo das memórias eróticas de ANÔNIMA

Atualizado em 20 de dezembro de 2015 às 15:56
Por Manara
Por Manara

No último capítulo tive a pior experiência sexual da minha vida. Saí com Luís, um psicólogo que conheci em um enfadonho evento de trabalho, na esperança de que ele me surpreendesse. Engano. Uma barra de chocolate amargo me traria mais prazer do que seus beijos lentos, carinhosos, quase preguiçosos.

Voltei pra casa decepcionada, disposta a finalmente recuperar minha satisfação sexual – mesmo que precisasse fazê-lo sozinha. Mas, felizmente, eu não precisaria.

Livrei-me dos sapatos, tirei as roupas e me servi de uma dose generosa de uísque. Resolvi checar minhas mensagens no celular.

– Lembra de mim?

Eu lembrava bem. Era Marcos, um fotógrafo de trinta e poucos com quem eu tivera um longo porém despretensioso affair, interrompido quando ele foi passar uma temporada fora do país.

Lembro-me que, na época, lamentei profundamente – não porque ele me despertasse qualquer paixonite, mas porque sabia exatamente como dar prazer a uma mulher.

Tínhamos uma energia sexual absoluta, avassaladora, quase indisfarçável. Era impossível vê-lo sem imaginar sua pele fundida à minha, sua língua me percorrendo, sua voz deliciosamente rouca ordenando-me que não parasse.

Ele compreendia a minha necessidade de liberdade – porque também a cultivava, imagino. Jamais me fez longos interrogatórios ou me cobrou qualquer coisa. Prezávamos pela leveza absoluta: entre nós, apenas o prazer. Esse era o nosso trato sagrado. Li, com um sorriso de canto, a próxima mensagem:

– Cheguei… faminto.

Marcos costumava me fazer o que chamávamos carinhosamente de visitas eróticas. Nos encontrávamos com o estrito propósito de transar – sem jantares tediosos, flores forjadas, ou palavras ensaiadas e obsoletas. Eu estava ganha, ele sabia.

– Moro no mesmo lugar – respondi, e foi suficiente para que, algumas horas depois, eu visse aquele rosto tão familiar através do olho mágico. Ele olhava para o teto, segurando um embrulho mal feito enquanto apoiava um dos braços na parede e assoviava distraidamente.

Eu já o esperava. Usava um vestido justo, cor de berinjela – o seu preferido, pelo que me lembro. Ele dizia que adorava ver o exato formato do meu corpo sob o tecido e imaginá-lo despido.

Ao abrir a porta, notei que nossa intimidade de longa data permanecia intacta, quando, sem sequer uma saudação, ele se aproximou o suficiente para que eu sentisse a sua respiração e me cumprimentou:

– Gostosa!

Ri alto.

– Sabe o que eu tenho pra você?

– Sei bem – ri um pouco mais alto.

– Não isso, boba. Trouxe um vinho chileno. É sua uva favorita.

Aproximei-me – mais que o necessário – para pegar o embrulho e provoquei-o esfregando sutilmente a minha perna na dele.

Caminhei até o bar para nos servir o vinho. Olhei para trás de relance e lá estava ele, olhando para o meu corpo como um prenúncio de tudo o que aconteceria naquela noite. Ele me olhava como um predador.

Brindamos, ainda em frente à porta, onde ele permanecia parado, acompanhando com os olhos todos os meus passos. Eu tentava me concentrar na degustação do vinho – maravilhoso, aliás – mas era impossível com aquele par de olhos cor-de-mel me perfurando. Ele não estava interessado no vinho ou em me contar como fora a sua temporada em Santiago.

Senti sua barba no meu pescoço – ele provavelmente se lembrava muito bem do meu ponto fraco.

– Quase morri de saudade do teu cheiro, gostosa! – disse, enquanto retirava sutilmente a taça ainda cheia da minha mão e a pousava na mesa central. Permaneci parada, acompanhando aquela gostosa sucessão de atos que provavelmente terminaria como todas as outras: meu corpo nu deitado em seus braços, malemolente de prazer, enquanto tragava um cigarro mais do que necessário.

Ele parou atrás de mim, muito perto do meu corpo, e mapeou-o com os olhos, sem me tocar. É do tipo que admira suas presas antes de devorá-las. Pousou uma das mãos em minha perna e foi o suficiente para que meus mamilos enrijecessem. Levantou meu vestido até a cintura – sem me beijar e sem sequer uma palavra – e admirou minha bunda semidespida por alguns segundos, apático, até me despir quase completamente. Permaneci parada, usando apenas a calcinha preta e minúscula que escolhera para aquela noite. Ele continuou apenas observando, deixando que uma latente tensão sexual tomasse conta do ambiente.

Desconfio que seja esse o seu segredo: ele é paciente. Observa e provoca até que eu implore pelo seu corpo. Eu não conseguia mais lidar com sua presença sem agarrá-lo.

Fui até ele, quase nua, e me esfreguei no seu corpo. Cada centímetro da minha pele estava em contato com as suas roupas, nosso hálito quente se fundia, nosso desejo era compartilhado pelos olhos. Tentei beijá-lo, mas ele me afastou, provocantemente e com uma dose de brutalidade. Senti sua língua no meu pescoço, no meu colo, e finalmente no meu mamilo rígido e arrepiado. Ele sugava meu peito com uma fome animal e uma paciência quase sobre-humana.

Despiu-me por inteiro e me encarou mais uma vez, sussurrando palavras inaudíveis, mas facilmente imagináveis. Bebia um gole de cada poro do meu corpo, até me invadir com a língua no meio das pernas, cada vez mais voraz, enquanto eu mexia os quadris gemia baixinho. A cada sinal de prazer que eu emitia – movimentos, palavras, a própria respiração – sentia-o mais tomado pelo tesão. Gozei naquela boca tão familiar, para vê-lo me limpando inteira e se deliciando com o meu gosto.

– Deliciosa! – ele disse, levantando-se e bebendo um gole de vinho. Abracei-o, terna, ainda ofegante, e resgatei também a minha taça. Deitamos juntos.

Era um dos nossos intervalos habituais. Costumávamos intercalar o prazer absoluto de nossas transas às conversas banais, discos de blues, tragadas relaxantes e taças de vinho – e assim desfrutávamos um do outro por madrugadas inteiras.

Conversamos sobre Santiago, vinhos, sexo e Nina Simone, até que ele começou a me falar de um amigo chileno que conhecera durante sua longa viagem. Era um velho escritor promíscuo e solitário que o acompanhara em muitas madrugadas.

– Ele tem uma ideia para nós dois, linda.

– Que ideia? – Respondi, atônita, curiosa e ligeiramente excitada.

O olhar que ele exibiu em resposta era enigmático como ele próprio.

[continua]