Fui atrás de Monet e achei Maximilien Luce em Giverny

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:31

O que descobri ao pegar um trem em Paris e descer no paraíso do impressionismo

A Gare de L'est na neve, por Luce

Não a primeira vez, porque Paris é Paris.

Também não a segunda, porque Paris ainda será Paris.

Mas a partir da terceira vez que você for a Paris deve considerar um visita a Giverny, onde Monet pintou seus célebres jardins impressionistas.

É um passeio esplêndido em todas as etapas. Você deve chegar antes à Gare de St Lazare, de onde sai o trem, para admirá-la. Essa estação representou, em meados do século 19, a ligação dos franceses com o mundo, no apogeu da Era das Ferrovias. Os trens tinham o apelo poderoso que mais tarde seria transferidos para os carros e para os aviões. Monet mesmo, antes de abandonar Paris, retratou St Lazare, fascinado pela mistura de fumaça com os raios de sol.

Você paga cerca de 25 euros pela passagem de ida e volta. O trem é o que vai para Rouen, mas para ir a Giverny você desce em Vernon. Muita gente desce lá, para ver Monet. Há ainda um trecho de 7 quilômetros, que você pode fazer de táxi ou de ônibus. Fiz de ônibus (4 euros ida e volta), mas recomendo táxi. O ônibus é grande e só sai quando lota. Isso pode significar uma espera de meia hora, como a que tive hoje.

Giverny vai fazer você reformular seus conceitos de beleza rural. Nunca vi campo tão belo. Parece que você anda pelos quadros de Monet.O impressionismo ali jamais saiu de moda. Você pode comprar quadros impressionistas de artistas contemporâneos a preços razoáveis, o equivalente a 1 ooo reais. Parecem Monet mas não são Monet, mas nada é perfeito. Para quem gosta de caminhar é um sonho.  Tudo é plano, a sombra é farta.

Há uma série de atrações em Giverny. Dois museus são disputados, primeiro o de Monet e depois o dos Impressionistas.

A fila para o Museu de Monet pode desanimar. A mim desanimou. A dor na consciência foi compensada pelo fato de eu, dias atrás, ter ido à monumental retrospectiva de Monet em Paris no Palais Royal. De resto, eu estava com fome, o que não é nenhum problema ali. Há vários restaurantes em que você come no meio de uma paisagem que vai competir o tempo todo com seu prato para ver quem ganha mais sua atenção.

Ao outro museu fui, e acabei presenteado pela obra estupenda de Maximilien Luce, um neoimpressionista que seguiu as passadas de Monet com algum tempo de distância. Parei diante de duas obras com rosto de conteúdo. A primeira mostrava a Gare de l’Est na neve, há pouco menos de 150 anos. Você tem vontade de pular para dentro do quadro, tamanha a beleza. Acresce que estou hospedado num hotel ao lado da Gare de L’Est, o Magenta. (Que recomendo: boa localização, bons preços, boa conexão, bom café da manhã, e além do mais o charme indiscreto da cor que lhe dá nome.)

Os mortos da Comuna de Paris, por Luce

O segundo quadro é uma cena da Comuna de Paris, de 1871, a primeira tentativa de uma revolução comunista da humanidade. O artista trai, no drama de sua tela, sua simpatia pela causa. Os mortos estão na calçada, e o sonho igualitário estava destruído. O quadro de Luce parece dizer o quanto ele lamentava o desfecho sangrento da Comuna, numa combinação de compaixão pelos vencidos e raiva dos vencedores.

Ao contrário dos impressionistas, a arte de Luce era engajada. Era um gauche, um artista de esquerda, um homem que pintou e coloriu o povo.

Fui atrás de Monet e encontrei Luce em Giverny.

Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 09 de outubro de 2010.

Saúde em Giverny