Garimpeiros exigiam meninas yanomamis como escravas sexuais para liberar comida em RR

Atualizado em 27 de janeiro de 2023 às 7:13
Capa do relatório. Foto: Instituto Socioambiental

Relatório elaborado pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com supervisão técnica do Instituto Socioambiental (ISA), mostra diversas violações de direitos humanos contra os yanomamis durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).

Intitulado “Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e Propostas para Combatê-lo”, o documento reúne provas de crimes cometidos contra os indígenas: garimpo. tráfico de drogas, exploração sexual, transmissão de doenças são algumas dessas violações. Publicado em abril de 2022, o relatório do ISA foi ignorado pelo governo de Jair Bolsonaro.

Relatório diz que garimpeiros doparam indígenas para estuprar criança da comunidade. Foto: relatório do Instituto Socioambiental

Na mais grave dessas violações, os garimpeiros exigiam usar as mulheres yanomamis como escravas sexuais para liberar comida para a população indígena. “Após os yanomamis requisitarem comida, os garimpeiros rebatem: Vocês não peçam nossa comida à toa, somente depois de deitar com sua filha irei te dar comida”, diz trecho do relatório.

Um pouco mais adiante no relatório, há outros relatos de chantagem sexual em troca de comida: “Os [garimpeiros] pedem, para as mulheres adultas e homens mais velhos, as filhas das tribos. Eles falam assim para os yanomamis: “Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!”, diz o documento.

“Garimpeiros oferecem comida em troca de sexo com adolescentes indígenas”, diz o documento. Foto: Relatório do Instituto Socioambiental

Os [garimpeiros] dizem: “Essa moça aqui. Essa tua filha que está aqui, é muito bonita!”. Então, os Yanomami respondem: “É minha filha!”. Quando falam assim, os garimpeiros apalpam as moças. Somente depois de apalpar é que dão um pouco de comida. “Se eu pegar tua filha, não vou mesmo deixar vocês passarem necessidade!”, no mesmo trecho do relatório.

Os garimpeiros oferecem comida para que indígenas não fiquem com medo. Foto: relatório do Instituto Socioambiental

Em outro trecho relacionado, aponta o relatório: “Depois que os garimpeiros estragaram a vagina das mulheres, fizeram elas adoecerem. Por isso, agora, as mulheres estão acabando. Os garimpeiros estupraram as mulheres, embriagados de cachaça”, relatou um indígena.

A oferta de bebidas alcoólicas é uma das principais estratégias dos garimpeiros para aliciar os jovens e abusar de adolescentes do sexo feminino. “Se você fizer deitar sua irmã comigo, vou pagar para você 5 gramas [de ouro] e vou te dar cachaça”, conforme o relato de um yanomami. A maioria das mulheres ianomâmis morreu de malária. Mas algumas delas morreram em decorrência dos seguidos abusos. Três delas tinham apenas 13 anos.

Garimpeiros ofereciam bebidas para aliciar jovens. Foto: relatório do Instituto Socioambiental

De acordo com o documento, publicado em abril de 2022, há também um afluxo de mulheres venezuelanas para a região, atraídas pelo garimpo. A promessa era de ganhar três gramas de ouro (cerca de R$ 1000) por programa. Mas a maioria dessas mulheres não sabia o que encontraria na selva.

Outras reclamações dos indígenas são a falta de remédios e a proliferação de doenças trazidas pelos forasteiros. Ainda em janeiro de 2023, houve comprovação de que a ex-ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, negou pedido dos yanomamis para envio de água, medicamentos e leitos durante a pandemia da covid-19.

“Além do desmatamento e da destruição dos corpos hídricos, a extração ilegal de ouro no território yanomami trouxe uma explosão nos casos de malária e outras doenças, com sérias consequências para a saúde e para a economia das famílias, e um recrudescimento assustador da violência contra os indígenas”, diz o documento.

Há também menção ao acobertamento de atividades ilegais no território yanomami por parte de militares. Alguns garimpeiros tinham ligação com soldados do 7º Batalhão de Infantaria de Selva – os soldados vazavam informações sobre operações da Fundação Nacional do Índio para coibir o garimpo ilegal.

Os militares permitiam a circulação de ouro e outros metais extraídos em terras yanomamis, além da atuação de traficantes de drogas mediante pagamento mensal de propina. O valor pago era de 10 gramas de ouro mensal (cerca de R$ 3200 na cotação atual do ouro).

Demarcada há 31 anos, a Terra Indígena Yanomami possui 9,5 milhões de hectares (área equivalente a Portugal. O levantamento revela que o garimpo prejudica 16 mil pessoas em 273 comunidades, 56% dos yanomamis.

Garimpo no rio Uraricoera. Foto: relatório do Instituto Socioambiental
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