Gilmar e os índios

Atualizado em 17 de março de 2013 às 5:47

O sofrimento de uma tribo comoveu o mundo esta semana, mas não a Justiça brasileira

Eles só se tornaram notícia por causa da internet

O Brasil e o mundo se comoveram, esta semana, com o drama de um grupo de índios  guarani-caiovás que disseram estar dispostos a morrer coletivamente caso sejam expulsos da terra que ocupam no Mato Grosso do Sul.

Índio não é notícia. Se você somar o que o Jornal Nacional, por exemplo, dedicou ao longo de sua história aos índios provavelmente não chegará aos infames 18 minutos de Mensalão de uns dias atrás.

Uma das funções mais nobres da mídia é dar voz a quem não tem, mas a imprensa brasileira jamais fez isso em relação aos índios. A omissão pôde, nos últimos anos, ser parcialmente compensada pela internet. O caso dos guarani-caiovás correu o mundo exatamente na internet.

Os índios brasileiros, como os aborígenes australianos, deram um tremendo azar quando os brancos civilizadores, aspas, apareceram. Imagine você num lugar que é seu e de repente surgem invasores fortemente armados dispostos a ficar. Genocídio é a palavra certa para descrever o que veio a seguir.

Ao longo dos séculos, os índios nunca tiveram quem defendesse seus interesses senão eles próprios, e mais um esforçado mas impotente grupo de ativistas.

O chamado outro lado, ao contrário, sempre teve tudo a ser favor: armas inicialmente, e depois legisladores e juízes. Tudo aquilo, enfim, que o dinheiro pode comprar.

Na Austrália, os aborígenes foram simplesmente impedidos pela justiça local de ter qualquer propriedade: tudo aquilo que não pertencia aos colonizadores da Inglaterra era considerado terra da Coroa britânica. Isso só foi mudar há poucos anos.

No caso dos guarani-caiovás, o horror a que eles foram submetidos teve um breve intervalo em 2009, quando Lula cedeu-lhes a terra que eles ocupam hoje.

Durou pouco o intervalo. Em 2010, o STF, então presidido por Gilmar Mendes, suspendeu o ato de Lula, em favor de quatro fazendas que reivindicam a terra.

Como Serra, Gilmar vai fazendo tudo que é necessário fazer para passar a história como alguém que não escapará de um esculacho estrondoso da posteridade.

Gilmar com o blogueiro Reinaldo Azevedo

Recentemente, grupos de ativistas decidiram esculachar estátuas de gente que combateu o mau combate. O general Castello Branco, para ficar num caso, foi esculachado no Rio de Janeiro. Castello, o presidente sem pescoço, cuidou muito mais dos interesses americanos do que dos interesses brasileiros quando foi presidente depois do golpe de 1964.

Fico imaginando o que ocorreria, no futuro, caso alguém erguesse uma estátua a este brasileiro de toga chamado Gilmar Mendes.