Globo é conivente com intolerância religiosa no BBB. Por Nathalí

Atualizado em 21 de fevereiro de 2023 às 15:24
Fred Nicácio, vítima de intolerância religiosa no Big Brother Brasil. Foto: Divulgação/Globoplay

 

Eis a primeira coisa que deve ser compreendida: esse texto não é sobre BBB (embora não houvesse qualquer problema caso fosse). Esse texto é sobre intolerância religiosa televisionada, assunto este que espero há anos para escrever.

Três participantes do reality não têm qualquer cerimônia para ofender a religião alheia. Key Alves, Gustavo e Cristian, três dos participantes do programa, levaram uma invertida muito bem dada do apresentador Tadeu Schmit sobre  seus comentários infelizes acerca da religião de Nicácio.

“Na noite de segunda (20), o apresentador fez um discurso sobre diversidade religiosa e rechaçou o preconceito em conversa com os confinados: “Todas as religiões têm o nosso respeito. Nenhuma religião é melhor do que as outras”, disse, ao vivo e em cores.

Os três preconceituosos, é claro, vestiram a carapuça. Pior: tentaram se justificar  da pior maneira possível:

“Eu sei o que eu senti. É pressão de energia”, comenta Cristian. “Eu respeito todas as religiões. Todas! Inclusive, tenho amigos de todas (….). Que eu sinto uma energia pesada aqui, eu sinto. Isso é inevitável. O tempo inteiro, cara”, diz Key.

“Eu até tenho amigos que são” é uma desculpa tão patética que se tornou um clichê e sobretudo uma piada.

Ter amigos de religiões de matriz africana não salva ninguém de ser visto como o que de fato é: preconceituoso e, porque não dizer, burro.

“É muito delicado, só que a gente tem que se posicionar do jeito que a gente acha que é o certo e o errado. A gente está aqui pra isso”, completou a jogadora de vôlei e fortíssima candidata a vilã da edição.

Verdade, é muito delicado ser intolerante em rede nacional. Mas é essa, tão somente essa, a preocupação dos três: que suas máscaras caiam e demonstrem o quanto são preconceituosos.

Não adianta mea culpa: intolerância fede, e o Brasil sentiu o odor de longe.

Dizer que alguém tem a “energia pesada” por conta de sua religião é preconceito dos mais velados: mané energia, vocês são só intolerantes, mesmo.

“Estou bem, de boa… A gente estava falando da religião, mas não desrespeitei em nenhum momento. Respeito a religião de cada um. Foi a intenção da pessoa. Não por religião, porque religião respeito todas, já fui em todas. A gente ta falando de boa” respondeu Gustavo, um dos participantes do diálogo infeliz.

Não estou aqui para defender a pessoa de Fred Nicácio – por quem, aliás, nunca torci.

O que pretendo é dizer que preconceito religioso não pode mais ser tolerado: nem de forma escancarada, nem de forma velada.

E o BBB se limita a uma bronca?

Intolerância religiosa é crime. Quem comete esse preconceito em rede nacional deve, no mínimo, ser expulso.  Quem reitera esse preconceito mesmo depois de uma bronca do apresentador, não merece sair impune.

Intolerância religiosa não é apenas condenável: ela mata. Como esquecer a garotinha apedrejada por suas vestes de candomblé?

Vejo ainda, nesse caso – e me chame de louca quem bem entender – certo preconceito racial. Fred é preto. Candomblé é religião de preto. Por quê cargas d’água nenhuma outra crença foi interpretada como “energia pesada”?

Porque pra essa gente, religião de matriz africana é coisa do diabo. E eles só não disseram isso abertamente porque, como diria Gil do Vigor, o Brasil tá vendo.

E tá vendo, também, que Nicácio não é um vilão. É apenas um homem preto que se recusa a renegar a própria religião.

Dizer que um candomblecista tem a “energia pesada” é o mesmo que dizer que o candomblé não é de deus – opinião esta muito popular aqui fora.

Espero que Fred Nicácio processe cada um que falou da sua religião, e que paguem pelos próprios preconceitos, porque, quando se trata de um crime, Dona Globo, um sermão não basta.

E antes que eu esqueça: Ora iê iê ô, minha mãe Oxum.

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