Glória Maria e o jornalista que morreu por uma grande reportagem

Atualizado em 12 de abril de 2013 às 4:20

Lee Halpin foi encontrado morto quando fazia uma matéria sobre moradores de rua.

Lee Halpin
Lee Halpin

A estratégia não é exatamente uma novidade. Em 1928 o escritor Graham Greene já tinha se valido dela. A experiência mais famosa, porém, talvez seja a longa reportagem do jornalista alemão Günter Wallraff publicada no livro Cabeça de Turco, de 1985. Passando-se por um trabalhador turco, Wallraff sofreu e denunciou a discriminação contra os imigrantes na Alemanha. Mais recentemente, o italiano Roberto Saviano infiltrou-se na máfia napolitana para depois lançar seu livro-denúncia Gomorra. Vive exilado e sob proteção até hoje.

O projeto, portanto, não era ousado no sentido de inovação. Mas sempre é uma atitude corajosa.

E assim Lee Halpin (26 anos) embarcou na empreitada que objetivava conquistar um estágio numa emissora como repórter cinematográfico.

Tema: moradores de rua.

Deixou um vídeo gravado anunciando o projeto e lá se foi o jovem Lee para as ruas de Newcastle com o propósito de “viver” por uma semana como sem-teto.

Após o terceiro dia, Lee Halpin, que esperava impressionar a emissora com seu “jornalismo verdade”, foi encontrado morto num prédio abandonado. Nessa época do ano as temperaturas ficam em torno dos quatro graus negativos durante a noite.  Teve declarada a hipotermia como provável causa de sua morte.

Mas a história ainda poderá mudar. Dois suspeitos de tráfico de drogas que atuavam naquela área foram presos. As investigações caminham para esclarecer se há algum envolvimento deles com a morte de Lee Halpin. O aspirante a repórter teria sido descoberto como um falso sem-teto e confundido pelos traficantes com um policial disfarçado.

Agora, ir a campo apenas não basta.

Na comemoração dos 40 anos do Globo Repórter na última sexta-feira, Glória Maria preparou extensa matéria sobre o Vietnã.

Foi até lá — como sempre, de jabá.

Acompanhando a imagem de um cachorrinho, ela narrava: “Este é o cachorrinho dele”. Ao vermos uma vietnamita recebê-la em casa e puxar um banquinho para a repórter, Glória Maria analisou com esforço: “Ela quer que eu sente.” Todo o programa foi raso como uma piscina de lona. A única atitude corajosa da repórter que se pode enaltecer foi a de manter na edição o tombo que levou ao tentar embarcar numa canoa.

A TV brasileira precisa, urgentemente, recrutar estagiários em Newcastle.