O Google está provendo uma ofensiva contra o PL das Fakes News, proposta que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. E-mails e relatórios revelados pela Folha de S. Paulo mostram os procedimentos que a plataforma está usando para impedir e atrapalhar quem se posiciona a favor do Projeto de Lei 2630/20, que deve ser votado nesta terça-feira (2), e assim influenciar a opinião pública e os parlamentares que decidirão a matéria.
Quem usa o Google nesta segunda-feira (1) se depara com um link embaixo da caixa de busca, com os dizeres: “O PL das fake news pode piorar sua internet” e “aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”. O link direciona o usuário para uma publicação da plataforma com inúmeras críticas ao projeto.
Segundo um levantamento do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a plataforma está privilegiando links de conteúdo de oposição ao PL nos resultados das buscas sobre o projeto de lei, além de anúncios do próprio Google criticando a nova legislação.
Conforme o NetLab, os links do Google contra o PL também apareceram na primeira página não como propaganda, mas como resultado da busca orgânica pelo termo “PL 2630”, em consultas realizadas de forma anônima, sugerindo um usuário genérico brasileiro sem histórico, entre os dias 23 e 28 de abril.
De acordo com Marie Santini, coordenadora do NetLab, o algoritmo do Google que determina o ranqueamento dos sites na ferramenta de busca normalmente mostra os resultados por ordem de relevância. Está entre os critérios o link ter sido citado por outras fontes de reconhecida reputação na internet.
“O que nos parece é que o Google ponderou os resultados de busca de tal forma a aumentar a relevância de sua própria voz em sua plataforma”, afirmou.
Marie ainda disse que “isso pode configurar abuso de poder econômico às vésperas da votação” para tentar impactar a opinião pública e os votos dos parlamentares.
Além disso, youtubers vêm recebendo desde a última sexta-feira (28) e-mails do YouTube afirmando que eles vão perder dinheiro se o projeto for aprovado. As mensagens afirmam que o PL compromete “nosso modelo de compartilhamento de receita”.
A rede social ainda diz que, ao ser obrigada a pagar por conteúdo jornalístico, como prevê o artigo 32 do PL, sobrariam “menos fundos para investir em você, em todos os nossos criadores e nos programas para ajudá-lo a desenvolver seu público”.
O relatório do NetLab da UFRJ aponta que o próprio Google comprou anúncios contra o PL na própria plataforma, na Meta e até no Spotify, que veda esse tipo de publicidade.
Em meio a uma ofensiva da Google contra o PL das Fake News, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu apurar se a empresa está usando práticas abusivas no seu posicionamento contra o projeto.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que irá encaminhar o assunto à análise da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão do Ministério da Justiça, “à vista da possibilidade de configuração de práticas abusivas das empresas”.
Mais cedo, a apresentadora Daniela Lima relatou que foi censurada pelo Twitter. Durante ao vivo do programa CNN 360, a jornalista mostrou que não estava conseguindo publicar um tuíte sobre o projeto.
“Eu fui apenas relatar no Twitter, simplesmente não estou conseguindo publicar”, relatou a apresentadora. “O algoritmo está mesmo mapeando as menções ao número do projeto de lei”, afirmou.
A plataforma, por sua vez, nega que esteja privilegiando links contra o projeto em seu buscador e afirmou que seus sistemas de ranqueamento se aplicam para todas as páginas da web, incluindo aquelas que administra.