Governo Bolsonaro encampa movimento antivacina da extrema direita mundial

Atualizado em 1 de setembro de 2020 às 18:27

Publicado no Jornal de Notícias de Portugal

Os partidários da aceleração da diminuição das restrições aplicadas contra o novo coronavírus estão furiosos perante da possibilidade de uma segunda onda da epidemia que obrigue a impor um novo confinamento na Europa e em outros lugares do mundo. Entre adeptos de futebol, partidários das teorias da conspiração, simpatizantes da extrema-direita e até alguns chefes de Estado, estes são alguns dos grupos que protestam.

“Os não conformistas”

Em meados de abril, o movimento “Querdenken-711” ou “Pensadores Não-Conformistas-711”, criado em Estugarda (sudoeste da Alemanha) por iniciativa de Michael Ballweg, um empresário do ramo da tecnologia, convocou manifestações contra as restrições decretadas por causa do novo coronavírus.

Isto aconteceu poucos dias antes de a Alemanha começar a diminuir as restrições (20 de abril), e mesmo com a a Alemanha a nunca ter imposto um confinamento restrito. Entre os seus apoiantes, está uma mescla de pessoas que se declaram como “pensadores livres”, ativistas antivacinas, teóricos da conspiração e simpatizantes da extrema-direita.

Protestam contra a “ditadura” das medidas que, segundo eles, ameaçam a liberdade garantida pela Constituição.

Cerca de 20 mil pessoas manifestaram-se em Berlim no início de agosto, a maioria sem máscaras e sem respeitar o distanciamento social, forçando a polícia a interromper o protesto.

O movimento “Querdenken-711” (711 é o prefixo de Estugarda) prepara protestos em novos locais para este fim de semana e deve realizar outra manifestação na capital alemã a 29 de agosto. Ainda que de pouca magnitude, esse movimento surgiu na Holanda, onde os manifestantes provocaram o confronto com a polícia.

Um grupo denominado “Virus Truth”, co-dirigido pelo ex-professor de bioquímica e dança Willem Engel, reivindica o direito de questionar as decisões das autoridades da saúde.

Em Londres, dezenas de pessoas protestaram em julho contra o uso obrigatório de máscaras em lojas e supermercados britânicos. Muitos exibiam cartazes e faixas sugerindo, por exemplo, que medidas preventivas contra o novo coronavírus serviam na verdade para “controlar mentes”.

Centenas de “coronacéticos” também desfilaram na capital romena, Bucareste, carregando símbolos religiosos, a bandeira nacional e faixas com os dizeres “Eu acredito em Deus, não na Covid-19”.

A 12 de julho, dezenas de pessoas sem máscara reuniram-se em Madrid sob gritos de “não à ditadura”, com faixas com mensagens contra máscaras, vacinas e a tecnologia de telecomunicações 5G.

Em Espanha, a polícia dispersou rapidamente a manifestação não autorizada, uma vez que as medidas sanitárias adotadas, entre as mais rígidas da Europa, contam com amplo apoio público.

Líderes anti-coronavírus

Alguns líderes políticos também não escondem o seu ceticismo.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro opôs-se às medidas de confinamento, apesar de testar positivo para a doença e passar três semanas em quarentena no mês passado.

Na última semana, no primeiro compromisso público desde a doença, cumprimentou uma multidão de apoiantes do estado do Piauí e para isso tirou a máscara.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump opunha-se categoricamente a usar máscara até meados de julho. Muitos xerifes também mostraram uma firme oposição ao seu uso nos condados, apesar de ser uma medida obrigatória ordenada pelos estados.

Em Itália, o líder da extrema-direita, Matteo Salvini, foi muito criticado na última semana depois de falar no Senado sem máscara, declarando que “cumprimentar com os cotovelos é o fim da raça humana”. Desde então, ele recuou na opinião, afirmando que deveria ser usada “quando necessário”.

Mais restrições

Por outro lado, há também os cidadãos que tomaram as ruas para expressar a sua indignação diante da incapacidade do governo de impor medidas restritivas.

A Sérvia viveu um breve, porém intenso, momento de protesto no início de julho, com manifestantes que acusavam o presidente Aleksandar Vucic de ter facilitado uma nova onda de contágios por diminuir as restrições muito rapidamente, devido às eleições, nas quais o seu partido conservador foi o vencedor.

Na Suécia, que adotou medidas mais flexíveis na luta contra a doença, vários manifestantes solicitaram medidas mais estritas.