Governo Lula: PF e Abin indicaram para cargos nomes vinculados ao bolsonarismo

Atualizado em 2 de fevereiro de 2024 às 6:52
Os diretores-gerais da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Luiz Fernando Corrêa, e da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Foto: reprodução

A investigação sobre a existência de um órgão paralelo de espionagem durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) derrubou de cargos de comando na Polícia Federal (PF) e na Abin (Agência Brasileira de Inteligência) dois delegados que ocupavam cargos de destaque na gestão bolsonarista.

Em uma reviravolta que se desenrolou nos últimos dias, Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho foi retirado de seu cargo como coordenador de Aviação Operacional na PF por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Posteriormente, Alessandro Moretti foi exonerado da diretoria-adjunta da Abin, por decisão do presidente Lula.

A saga desses delegados destaca, em parte, a disputa interna entre as lideranças da PF e Abin, que remonta ao período de transição do governo. Durante essa fase, um grupo almejava controlar ambas as instituições, mas Lula tomou uma direção diferente.

Na PF, Lula designou Andrei Rodrigues, delegado que coordenou sua equipe de segurança na campanha de 2022, estabelecendo laços próximos não apenas com o presidente, mas também com a primeira-dama Janja. A escolha de Lula não enfrentou resistência de Flávio Dino (PSB), que assumiria a pasta da Justiça, à qual a PF está subordinada.

Enquanto isso, na Abin, Lula escolheu Luiz Fernando Corrêa, um antigo colaborador que havia sido diretor-geral da PF em seu segundo mandato. Corrêa assumiu a agência de inteligência sob a alçada da Casa Civil, comandada pelo ministro Rui Costa, retirando-a das mãos do Gabinete de Segurança Institucional.

Essas nomeações foram exploradas pela PF para minar a direção da Abin nos bastidores, alegando que Corrêa estava trazendo para o governo petista pessoas que desempenharam papéis importantes sob as ordens de Bolsonaro, segundo informações da Folha de S.Paulo.

Lula demite diretor-adjunto da Abin | Agência Brasil
Fachada do prédio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A relação entre Moretti e Andrei começou a deteriorar-se em 2022, quando o chefe de inteligência da PF foi acusado de dificultar o trabalho da equipe de segurança de Lula durante a campanha eleitoral. Moretti foi indicado para adido da PF na França, mas a nomeação foi bloqueada por Andrei assim que assumiu o cargo.

Carlos Afonso Coelho, por sua vez, chefiou o Centro de Inteligência Nacional da Abin, o órgão suspeito de abrigar atividades paralelas em favor da família Bolsonaro. Nomeado como coordenador de Aviação Operacional da PF, sua indicação foi atribuída a Andrei, evidenciando a tentativa de ampliação de poder dentro do governo Lula.

Moretti foi exonerado após a revelação de uma operação em que a PF alega que ele obstruiu investigações. Os investigadores apontam sua participação em uma reunião em março de 2023, onde ele teria minimizado o caso envolvendo a Abin e o software FirstMile, utilizado para espionar adversários políticos dos Bolsonaro.

Essa investigação, iniciada em outubro passado, já resultou no afastamento de Paulo Maurício Fortunato, o número 3 da Abin, e revelou a existência de US$ 171 mil na residência dele.

Carlos Afonso Coelho foi afastado devido à operação do último dia 25, quando a PF alegou que ele, juntamente com Ramagem, agiu para evitar uma investigação interna na Abin sobre o uso irregular da FirstMile.

O pedido de operação destacou a intenção de manter Coelho no cargo para evitar alertá-lo sobre as investigações. A PF sustentou que sua nomeação foi baseada em critérios técnicos, destacando que sua função como piloto de aeronave não possui vínculos com as áreas de investigação ou inteligência.

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