Exclusivo: Advogado grampeado por Moro conta como Lava Jato nasceu fora da lei. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 12 de julho de 2017 às 8:16
O advogado e o grampo admitido por Moro: Constituição rasgada.

 

Esta reportagem faz parte do nosso projeto de crowdfunding sobre a Lava Jato. Outras virão. Fique ligado.

O advogado que teve o sigilo telefônico quebrado em 2006, na origem da investigação que resultou na Lava Jato, disse hoje ao DCM que a operação não resiste a uma verificação séria de legalidade.

“Interceptaram uma conversa minha com um cliente, o que é a violação de um direito constitucional, e investigaram José Janene, que era meu cliente, sem terem poderes para isso. Janene era deputado federal e quem tinha que investiga-lo é o Supremo Tribunal Federal”, afirmou o advogado Adolfo Gois, de Londrina, na primeira entrevista que concede sobre o caso.

Gois advogou para Janene durante muitos anos, inclusive quando o deputado federal foi acusado de envolvimento no mensalão, em entre 2005 e 2006.

O advogado defendia os parentes e funcionários de Janene acusados de envolvimento com a lavagem dos recursos de caixa 2.

Nas conversas sobre esses fatos que o advogado teve com funcionários de Janene, a Polícia Federal descobriu que Alberto Youssef era doleiro do deputado federal.

Mas, em vez de remeter o caso para o Supremo, continuou a investigar.

Investigou, mas ninguém foi julgado.

“Toda hora, chamavam meus clientes para depor e eu não sabia que estava sendo grampeado. Soube em 2016, quando o advogado de Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula) me procurou para falar sobre o inquérito lá de trás. Ele tinha tido acesso a alguns documentos da Polícia Federal que eu não tinha visto, e encontrou os relatórios que mostravam as minhas conversas com meus clientes”, afirmou.

O advogado também considera muito estranho como os inquéritos foram parar nas mãos do juiz Sérgio Moro.

“Quem cuidava desses inquéritos era outro juiz, o doutor Nivaldo Brunoni, e eu nunca entendi como saíram da mão dele e foram para as de Sérgio Moro, que, aliás, nem era um juiz tão brilhante assim. Mais tarde é que ele virou uma unanimidade nacional, e eu vi que ninguém teve coragem de verificar o que ele exatamente fez para assumir a investigação toda”, declarou.

Segundo Adolfo Gois, não havia nenhuma relação dos fatos investigados em 2006 com a Petrobras.

“Era o mensalão”, insiste.

Os clientes dele não foram denunciados, e ele deixou o caso depois que Janene morreu, em 2010.

“Em 2014, vejo que o Sérgio Moro começa a prender todo mundo e descubro que estava relacionado com a investigação lá atrás. Como ele fez isso? É só analisar os documentos para ver que forçaram a barra para que ele se tornasse o juiz competente para todos os casos. Pela lei, não podia assumir tudo isso”, afirmou.

“Mas eu acho que a culpa maior nem é dele. É das instâncias superiores, que não tiveram coragem de barrar o que Moro vinha fazendo – só agora é que algumas decisões do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba começam a ser revistas, como a que absolveu João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que havia sido condenado por Moro sem provas.

No meio jurídico, circulou a informação de que o juiz Sérgio Moro divulgaria hoje a sentença no processo em que o ex-presidente Lula é acusado de receber um tríplex da empreiteira OAS como propina por contratos da Petrobras.

Até agora, nada.

Mas a expectativa é que a sentença saia a qualquer momento, e o juiz condene o ex-presidente, embora não haja uma única prova de que o apartamento do Guarujá pertença a Lula ou a sua família.

Pelo contrário.

As provas existentes no processo mostram que o apartamento nunca deixou de pertencer à empreiteira.

E Lula é credor de mais de R$ 200 mil da OAS e de sua antecessora no empreendimento, a Bancoop, valor que Marisa Letícia, mulher do ex-presidente, pagou por uma cota do condomínio.

O que leva à expectativa de condenação é o envolvimento demonstrado por Moro no processo e as declarações que já deu, sendo identificado como adversário de Lula.

Moro e Lula foram retratados na capa da revista Veja como atletas de luta livre, preparados para um confronto no ringue.

É a percepção pública da Lava Jato: Moro x Lula.

Se deixar de condenar o ex-presidente, Sérgio Moro passará a imagem de que perdeu a luta.

Se condenar, como é provável, ficará bem com seus seguidores, mas sairá com a imagem queimada no meio jurídico.

Passado esse ambiente de vale tudo, quando as instâncias superiores do Judiciário se dispuserem a analisar os abusos cometidos, o advogado Adolfo Gois é uma personalidade a ser chamada.

“Tenho muitos documentos, juntados no processo, que mostram que Moro nunca poderia ser o juiz da Lava Jato”, afirmou.

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