“Grito de desespero”: o que ministros do STF acharam do ato de Bolsonaro

Atualizado em 26 de fevereiro de 2024 às 13:18
O ex-presidente Jair Bolsonaro durante ato na Paulista. Foto: reprodução

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) consideraram o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), realizado no domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, como um “grito de desespero” diante do avanço das investigações sobre o planejamento de um golpe de Estado após as eleições de 2022, além do temor do ex-presidente em relação à possibilidade de prisão.

Segundo relatos de integrantes da corte apurados pela jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, Bolsonaro teria adiantado sua estratégia de defesa, chamada por eles de “absurdo jurídico”, na tentativa de criar uma narrativa junto a seus apoiadores de que não havia irregularidades em discutir uma minuta de golpe de Estado.

Um ministro procurado pela jornalista Mônica Bergamo afirmou que o ex-presidente não assustava o STF nem quando tinha poder, tropas e mobilizava multidões, lembrando que ele costumava ser mais agressivo em suas falas públicas.

Durante seu discurso, Bolsonaro admitiu a existência da minuta do golpe, levantando questionamentos entre os ministros do STF. Um deles ressaltou a contradição na fala do sujeito de que submeteria a minuta ao Congresso, quando na verdade um golpe de Estado poderia abolir o próprio Congresso Nacional.

“Mas como ele diz que ia submeter [a minuta] ao Congresso se, com golpe de Estado, quem garante que ia ter Congresso? Tinha uma versão [da minuta] até para prender o Pacheco [presidente do Senado]”, disse o ex-presidente na ocasião.

Para a Polícia Federal, a admissão de Bolsonaro em liderar o golpe é vista como um reconhecimento dos crimes investigados, enquanto a solicitação de anistia também é interpretada como uma confissão de culpa.

Bolsonaristas em ato na Avenida Paulista. Foto: reprodução

Os magistrados observam uma mudança de postura por parte de Bolsonaro e seus aliados, que antes eram vistos como os mentores intelectuais do golpe, mas agora são vistos como os responsáveis por materializar a proposta.

Embora Bolsonaro tenha evitado ataques diretos ao STF durante o ato, os ministros perceberam uma terceirização dos ataques, direcionados a Silas Malafaia, a quem chamam nos bastidores de “ventríloquo”.

Analistas políticos observam que Bolsonaro reafirmou sua liderança na direita política durante o evento, buscando garantir o apoio de seus aliados e sucessores em potencial, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), às vésperas das eleições municipais.

Apesar disso, até mesmo aliados de Bolsonaro não acreditam que ele sairá ileso das investigações, havendo a expectativa de uma possível condenação no futuro. Tanto no STF quanto na PF, há a percepção de que qualquer prisão só ocorrerá após o trânsito em julgado, ou seja, quando não houver mais possibilidade de recurso.

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